Detalhe da assembleia dos terceirizados, realizada em dezembro, quando os salários também atrasaram (Foto: Luiz Fernando Nabuco)
Por Aline Pereira
DA REDAÇÃO DA ADUFF
Mais uma vez a corda arrebenta para o lado mais fraco. Terceirizados da empresa Luso-Brasileira, contratada pela UFF para atuar na área de limpeza e conservação, estão com os salários atrasados de novo. Se não recebessem até às 16h desta terça-feira (12), eles entrariam em greve. O pagamento, em média menos de R$1mil por mês, deveria ter sido depositado no quinto dia útil, mas, até agora, trabalhadores ainda aguardam ansiosos pelo cumprimento do seu direito: receber o ordenado. Por conta dessa situação, cada vez mais corriqueira nas universidades, o Bandejão da UFF, no campus do Gragoatá, permanece fechado desde o final da tarde de ontem. E provavelmente estará fechado amanhã, como disse um funcionário da empresa à reportagem da Aduff-SSind, pois até às 17h dessa terça-feira o valor não havia sido creditado.
De acordo com um funcionário que não quis se identificar, o atraso no pagamento dos salários atinge trabalhadores de outras empresas privadas contratadas pela Universidade, entre eles os vigilantes da Croll e os funcionários da VPar. Os da Nova Rio estão sem receber a passagem e o vale alimentação. Quando viram o saldo negativo no banco, os terceirizados imediatamente procuraram o Sindicato dos Trabalhadores em Asseio, Conservação e Limpeza Urbana de Niterói, São Gonçalo, Itaboraí e Rio Bonito – Sintacluns, que os representa. O Sindicato notificou a UFF e, segundo o trabalhador, orientou a categoria a esperar uma resposta da empresa contratante antes de paralisar as atividades. “Não fui trabalhar desde que soube que não iria receber o salário”, diz um funcionário lotado no Gragoatá.
“Temos medo de brigar pelos nossos direitos, porque sabemos que ficamos mal vistos na empresa”, disse outra trabalhadora, que preferiu o anonimato. “Mas a verdade, é que todo mês atrasa alguma coisa e a gente não tem a menor segurança para fazer um crediário, porque nunca sabe quando vai ter dinheiro para pagar as contas”, disse mais um terceirizado à equipe de reportagem.
Ele ainda explica que, depois da paralisação feita em dezembro, por conta do atraso no pagamento do 13º, os trabalhadores receberam a informação do sindicato de que, a partir de março, ganhariam mais R$2 no ticket alimentação, que passaria para R$15. “Até agora, nada. E eles não dão qualquer satisfação. Isso irrita muito, porque a gente nunca sabe o que está acontecendo. Não sei se não recebi porque a UFF não pagou a empresa ou se a empresa está segurando o dinheiro para outra coisa”, diz.
Além dos constantes atrasos no pagamento dos salários, os trabalhadores da Luso-Brasileira afirmam que não contam com os adicionais de insalubridade e/ou de periculosidade. Eles também não têm acesso à Equipamento de Proteção Individual – EPI adequados. “Limpo fezes de pombo, vaso sanitário e não recebo insalubridade. Subo em beiral de janela para limpar vidros e não ganho periculosidade. Tudo o que eu recebo é uma luva de plástico… E não posso falar muito, porque corro o risco de ser punido até com demissão por querer o que é um direito do trabalhador”, afirma.
Medo é uma palavra que esses trabalhadores conhecem bem. “Nossa paralisação só não avança mais porque a categoria tem medo de ser descontada. Se eu levar falta, por exemplo, vou perder o dia de trabalho, o ticket alimentação e a passagem em dinheiro. Isso pesa para quem recebe pouco. Por qualquer coisa somos chamados atenção na empresa. A gente anda na linha. Mas, a verdade é que trabalhar e nunca saber quando vai receber o salário é um abuso”, desabafa.
De acordo com a presidente da Aduff-SSind, Renata Vereza, a seção sindical é solidária aos terceirizados. Para a docente do curso de História, a situação é absurda e expressa como essa categoria de trabalhadores está desamparada em relação ao cumprimento dos seus direitos.“Soube que a UFF iria depositar o dinheiro apenas no final da tarde de hoje. Isso quer dizer que, dinheiro na conta, quem sabe, talvez, só na quinta 14. Conversei com terceirizados e eles informaram que foram descontados, indevidamente, quando fizeram paralisação no mês passado. Eles não receberam o salário e, por isso, paralisaram. Foram lesados em seu direito de greve”, denunciou.
Segundo a docente, a condição de trabalho dos terceirizados é tão precarizada que eles não se sentem seguros para reivindicar seus direitos. Ela também observa que a universidade e as empresas, agindo com certa conivência, tentam fragilizar ainda mais a categoria, dividindo o movimento, realizando o pagamento de forma fracionada para trabalhadores da Croll, Centauro, Nova Rio, Luso-Brasileira e VPar. “Quando eles começam a se articular, os funcionários de determinada empresa ganham o salário, mas não recebem os benefícios (passagem, alimentação). Outros recebem a passagem, mas não recebem o salário e o ticket alimentação”, analisa.
Fonte: ADUFF-SSIND