Nos últimos meses, um misto de tristeza, indignação e revolta tem tomado conta dos/as técnico-administrativos da UTFPR, instituição que compõe a base do Sinditest. Motivo: fortes indícios de que integrantes da gestão do campus de Cornélio Procópio empregaram ações ilícitas de desvio de recursos públicos para benefício de particulares, beneficiando poucos em detrimento de muitos.
A categoria e demais integrantes da comunidade universitária da UTFPR tomaram conhecimento das irregularidades graças à veiculação feita pela mídia e ao relatório divulgado pela Auditoria Interna da Universidade. O documento aponta que os prejuízos podem atingir valores que ultrapassam a cifra de milhões de reais.
Culpa compartilhada
Diante deste cenário, técnico-administrativos da Instituição concluem que não apenas os praticantes dos atos ilícitos são responsáveis, mas também os/as dirigentes que em outros momentos decidiram não aceitar as propostas de (re)organização do modelo de gestão da Universidade, proposto diversas vezes pela categoria.
Segundo o técnico-administrativo Weslei Trevizan Amâncio, do campus da UTFPR em Londrina, a ideia sempre foi tornar a gestão participativa, com adoção de instrumentos de ampliação da democracia (como a criação de conselhos gestores nos campi, a realização de audiências públicas para avaliação, debate e deliberação sobre variados temas, bem como a destinação do orçamento da Universidade etc.). Isto, de acordo com Weslei, possibilitaria o controle social direto sobre as ações dos seus gestores, garantido que os investimentos e recursos públicos fossem destinados ao bem público e não desviados a particulares.
“Sem mi mi mi”
Medidas como estas, se tomadas, certamente teriam evitado que condutas corruptas prosperassem. Ao invés disto, ouvíamos barbaridades como “democracia demais atrapalha”; “assembleísmo só atrasa e dificulta as coisas”; que “tínhamos de parar com o mi mi mi democrático”, entre outras. Resultado destas posturas autoritárias é vermos o prejuízo para a população e o nome da UTFPR envolvida em casos de corrupção, como está ocorrendo em Cornélio Procópio, denunciam os técnico-administrativos da Instituição.
O fato é que, explica Carlos Pegurski, técnico-administrativo da UTFPR e coordenador geral do Sinditest, quando práticas de corrupção são consumadas é grande os prejuízos material e financeiro (não aquisição de equipamentos, nem construção de salas de aula etc.). Estes recursos, se bem aplicados, poderiam melhorar o atendimento no serviço público, e beneficiar a população em geral e não seletos grupos, defende Pegurski.
Imagem manchada
Carlos Pegurski destaca que os prejuízos não param aí. Todos/as que desenvolvem atividades na Instituição, independentemente de participarem ou não das falcatruas, são vistos pela opinião pública, que nem sempre consegue separar o joio do trigo, como corruptos. Somos expostos a um constrangimento desnecessário. Nossa imagem e credibilidade é posta em xeque. De forma geral, todos são considerados culpados.
Assim, questiona Pegurski, se todos/as sofrem com as consequências da corrupção, da má administração, por que as medidas preventivas (o remédio) reivindicadas pela maioria dos/as técnico-administrativos não são consideradas? Porque o que vale são as medidas defendidas por não mais que uma dúzia de tecnocratas, medidas essas que não correspondem à realidade? Até quando nós, trabalhadores/as e estudantes, vamos suportar o peso de uma conta que em nada contribuímos para que existisse?
Tema de 5ª categoria
Quando os/as técnico-administrativos em educação (TAE`s) das Instituições Federais de Ensino Superior, em seus movimentos e pautas reivindicatórias, cobram, especialmente das Reitorias, dentre outros, Gestão Participativa e Democratização da Instituição, não a fazem por preciosismo. Nosso desejo, ressalta Weslei, é que os princípios e diretrizes do estado democrático de direito encontrem fluidez na vida prática da Universidade.
Este tema tão fundamental não pode continuar sendo tratado pela atual Reitoria da UTFPR como sendo de 5ª categoria, defendem os técnico-administrativos. Continuar lutando pela ampliação da democracia e pelo fortalecimento da participação social nas instituições públicas sempre será preciso. Mas, quando o caminho já traçado não se apresenta como certo e tão pouco seguro, temos a liberdade de traçar, e oxalá construir, uma outra rota, por onde as águas sejam menos turvas.
Assessoria de Comunicação do Sinditest-PR, com a colaboração de Weslei Trevizan Amâncio/UTFPR Londrina.