Os servidores técnico-administrativos do ensino público superior do Paraná vão decidir na próxima quinta-feira, 30, se o movimento deve apresentar uma contraproposta ao governo federal para tentar colocar fim à greve. A discussão começou a ser feita na assembleia desta terça-feira, 28, quando a paralisação da categoria completou dois meses.
Na semana passada, em suas reuniões, o Executivo repetiu a proposta de reajuste de 21,3% parcelado em quatro anos para o serviço público federal, e avançou pouco na pauta específica dos técnicos. “Basicamente, o governo disse que não vai negociar nada que gere impacto financeiro, além do reajuste”, resumiu Larissa Gysi, que compõe as direções do Sinditest-PR e da Fasubra, a federação que reúne dos sindicatos da categoria.
No momento, o Comando Nacional de Greve discute uma contraproposta de reajuste, de 19,7% em parcela única. Na quinta-feira, os grevistas do Paraná devem decidir se apoiam essa proposta ou se insistem nos 27,38% reivindicados inicialmente. “Chegamos a um ponto em que precisamos olhar para o tempo que passou, 60 dias, e decidir o que é mais tático: apresentar uma contraproposta ou persistir nos 27%”, avaliou Carlo Cobalchini, diretora do Sinditest-PR.
Alguns técnicos, no entanto, já se manifestaram contrários à apresentação de uma contraproposta neste momento. É a posição de Bernardo Pilotto, do Hospital de Clínicas. “A greve ainda está crescendo, com a adesão de outras categorias. Estamos fortes”, avaliou.
Para Maurício de Souza, da UFPR Litoral, é hora de radicalizar o movimento. “Precisamos pensar em como afunilar a nossa greve. Precisamos arrancar alguma coisa antes que setores que blindam o governo decidam sair da paralisação.”
Outro ponto que preocupa a categoria é a vontade demonstrada pelo Executivo de acabar com a paridade entre servidores ativos e inativos. “É interesse sim quebrar isso. Nós somos uma das únicas carreiras do serviço público que mantém a paridade”, assegurou Larissa Gysi.
Pauta local da UFPR
Dentro da UFPR, a pauta local de negociação avança lentamente, de acordo com o informe dado nesta terça pela comissão de negociação. O principal ponto da pauta, hoje, é a consolidação da jornada de 30 horas semanais dentro da universidade. Para isso, a comissão quer aprimorar a resolução 56/11.
Para Márcio Palmares, do Sinditest-PR, a reitoria tem se mostrado intransigente em relação ao ponto eletrônico e à extensão das 30 horas para toda a UFPR. “O reitor Zaki Akel usa o ponto eletrônico como moeda de troca com a CGU [Controladoria-Geral da União]. Ele espera assim ter a barra aliviada quanto a licitações e convênios questionáveis, como os que a universidade mantém com o Dnit [Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes]”, opinou.
Mesmo assim, Palmares acredita que a pauta já tenho tido alguns avanços, como o desengavetamento dos processos de 30 horas parados na Secretaria de Órgãos Colegiados (SOC).
Para ele, a ameaça às 30 horas e a questão do ponto eletrônico deveriam encorajar a adesão à greve. “Ou você adere à greve agora, ou você vai pagar o preço dessa omissão logo, logo”, previu.
No próximo dia 06 de agosto, uma reunião do Conselho Universitário (Coun) deve colocar em pauta a questão da jornada flexibilizada. O comando local de greve planeja um ato no pátio da reitoria para pressionar os conselheiros.
Três meses do “massacre do Centro Cívico”
Na assembleia de hoje, os servidores decidiram se juntar aos professores da rede pública estadual nos atos que lembrarão os três meses do “massacre do Centro Cívico”. Os atos acontecem na quarta-feira, 29, mesmo dia em que, coincidentemente, o governador Beto Richa (PSDB) completa 50 anos de idade.
Os técnicos administrativos devem participar, principalmente, do ato que acontece às 14 horas, na Boca Maldita.
“Caso Nicolas”
Na semana passada, a assessoria jurídica do Sinditest-PR participou da primeira audiência do “caso Nicolas”. Nicolas Pacheco, estudante da Unioeste, foi preso no dia 28 de agosto de 2014, data em que o Conselho Universitário aprovou a adesão do Hospital de Clínicas à Ebserh, sob forte cerco policial e protestos de servidores e estudantes.
O acordo oferecido pelo Ministério Público, que previa dois anos de trabalhos comunitários e a doação compulsória de uma parte da renda de Nicolas, foi rejeitado pela defesa. Agora, o Sinditest-PR procura testemunhas que estavam nos protestos do dia 28 e presenciaram a prisão. A alegação do MP é de que Nicolas resistiu e tentou inclusive tomar a arma de um policial. A defesa argumenta que o estudante foi preso arbitrariamente, agarrado por trás e sem chances de defesa.
“Isso não tem nada a ver com o Nicolas, especificamente. É uma tentativa de criminalizar o nosso movimento de resistência”, ponderou Márcio Palmares. “Eles escolhem um para castigar e amedrontar os outros.”
Sandoval Matheus,
Assessoria de Comunicação do Sinditest-PR.