Série ‘Conheça a nossa categoria’: Rafael Policeno de Souza, Técnico em Assuntos Educacionais do Campus de Jandaia do Sul da UFPR

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A Coordenação de Educação do Sinditest em parceria com a Comissão Interna de Supervisão de Carreira (CIS/UFPR) apresenta a primeira série de entrevistas com colegas Técnicos Administrativos em Educação que atuam em dois dos cargos que compõem nosso plano de carreira e têm importante atuação no dia a dia da universidade. Os Técnicos em Assuntos Educacionais e os Pedagogos das universidades federais – UFPR, UTFPR e Unila.

 “Queremos que a comunidade acadêmica conheça quais são as diferentes ocupações e assim, ao compartilhar os saberes, pretendemos gerar empatia e solidariedade pelo trabalho desempenhado por diferentes membros da categoria das nossas instituições”, explica Elis Ribas, Coordenadora  da CIS/UFPR e do Sinditest.

“Fico muito feliz por esta série começar com as entrevistas de Técnicos em Assuntos Educacionais e Profissionais da Pedagogia, até mesmo por ser a carreira na qual me enquadro, mas principalmente pela possibilidade de percebermos a grande variedade de ações desempenhadas, permeando todos os ambientes da Universidade, desde a relação de ensino e aprendizagem, tão fundamental para a vida acadêmica dentro da universidade, até atividades envolvidas diretamente com a gestão e a organização da Universidade”, afirma Guilherme Ruthes, Coordenador de Educação do Sinditest.

As entrevistas serão publicadas no site do Sinditest sempre às terças e quintas-feiras. Acompanhe as nossas redes sociais e não perca as atualizações!

Conheça agora um pouco do que pensa e onde atua Rafael Policeno de Souza, Técnico em Assuntos Educacionais do Campus de Jandaia do Sul da UFPR. Há 3 anos na UFPR, Rafael é profissional licenciado e mestre da área de História. Atuou por 14 anos na iniciativa privada e foi por 5 anos professor do ensino básico da rede pública do Rio Grande do Sul.

Qual é a sua formação profissional?

Rafael: Carrego uma formação profissional bastante heterogênea: do chão de fábrica à supervisão comercial. Possuo mais de 14 anos como trabalhador celetista, além dos 5 anos (2013-2018) como professor do ensino básico da rede pública do RS. Em 2010 concluí a graduação de Licenciatura em História, (em 2018 concluí o mestrado em História pela UFRGS). No ano de 2013 ingressei no serviço público através de concurso para o magistério (séries finais do fundamental e ensino médio). Ao passar a me dedicar integralmente à educação, comecei a pesquisar sobre carreiras em que pudesse desenvolver outras valências profissionais para além do ensino básico. Foi então que me deparei com o cargo de Técnico em Assuntos Educacionais. Fiquei extremante empolgado com as atribuições do mesmo e passei a fazer todos os concursos possíveis.

Quanto tempo você atua no cargo na Instituição?

Rafael: Ingressei na UFPR em novembro de 2018.

Como é a rotina na sua Unidade de lotação?

Rafael | Como disse, entrei em exercício em novembro de 2018. Por não haver uma integração efetiva e não termos as atribuições do Técnico em Assuntos Educacionais observadas no emprego da força de trabalho, acabei sendo lotado na antiga Secretaria Acadêmica dos Cursos (hoje Unidade de Apoio Acadêmico). Me inteirei das rotinas administrativas e passei a executar, junto com a equipe, as atividades de apoio aos acadêmicos e às coordenações de curso (em fevereiro de 2019 passei a exercer a função de chefia da unidade, encargo que segue sob minha responsabilidade).

Após o breve recesso de final de ano, no início de 2019, apontei esforços em buscar adicionar às rotinas que possuo na unidade, atividades que estivessem contempladas nas minhas atribuições de cargo. Participei de comissões (recepção aos calouros), ofereci oficinas na semana de recepção, ingressei no Comitê Local de Extensão (desenvolvendo a política extensionista no campus e trabalhando como parecerista das propostas submetidas e analisando os relatórios das atividades realizadas). Ao longo do ano de 2019 fui proponente, e dividi iniciativas com outros colegas, de uma série de atividades extensionistas: eventos (um dia inteiro de mesas e palestras sobre e com as mulheres do campus e convidadas, algo inédito no campus;  cinedebate “Eu, Daniel Blake”, que objetivou colocar em perspectiva o desmonte das políticas públicas, em especial, às de previdência e seguridade social; roda de conversa: o dia da consciência negra; entre outras participações quando convidado por professores); curso de extensão (ministrei um curso de 20h, dividido em quatro encontros: “Papo cabeça: História, Cinema, Música e Literatura” que teve 24 inscritos, mas participação e presença efetiva de 8 alunos).

O nível de aproveitando do curso de extensão me fez pensar num projeto de extensão, aproveitando o mote principal da ideia do curso e ampliando o mesmo à comunidade local: instituições de ensino formal e não-formal.  Ao final de 2019 o projeto já havia passado pelos crivos do comitê local e do CAEX. Aprovado o projeto, o mesmo não foi colocado em andamento a partir da infeliz (me falta adjetivo mais apropriado) resolução do CEPE (Fev/2020) que definiu que os TAE (Técnicos Administrativos em Educação) podem coordenar projetos, porém, não orientar. Pelo tipo de projeto que tinha, significava que precisaria corromper minha autonomia intelectual e colocar, artificialmente, um colega docente (que não concebeu, tampouco, tenha construído a ideia do projeto). A tutela e subalternização imposta pelo documento do CEPE me fez declinar do projeto. Vale sublinhar que a súmula de atividades do meu cargo prevê, como uma das minhas atribuições, a orientação acadêmica.

Destaco que o cargo tem como pré-requisito a exigência de licenciatura. É uma violência à legalidade dos direitos e deveres aos quais fui investido quando da posse do cargo, configurando-se em grave erro institucional que desconsidera, ainda, minha formação e experiência docente de 5 anos de atuação na rede pública do ensino básico do RS.

Também cabe menção que, desde o início de 2020, a convite do professor Dr. Marcelo Valério, participo, como membro da equipe, do projeto de extensão CAFÉ.Doc (Coletivo de Apoio à Formação e à Experiência Docente), junto com a também professora Dra. Bárbara Braz. Inclusive, os resultados das “primeiras xícaras” do CAFÉ.Doc. foram apresentados no dia 10/03 no 9ª CBEU (Congresso Brasileiro de Extensão Universitária).

Com o término da gestão do Comitê Local de Extensão, em março do corrente ano, optei por não renovar o interesse de participação no mesmo. Apesar da experiência rica e do apoio do Comitê Local ao processo de tensionamento e luta por revisão da resolução que restringiu a participação dos TAE, entendi que permanecer no espaço seria como se eu estivesse compactuando com os desmandos e equívocos institucionais.

Quais as principais atividades que no seu dia a dia são fonte de satisfação profissional e quais são as principais fontes de frustração?

Rafael: Em geral, me sinto feliz e satisfeito quando vejo que estou contribuindo em qualquer situação de trabalho. O compromisso com o serviço público me coloca esta premissa. Contudo, sempre que estou conseguindo, minimamente, desenvolver reflexões e intervenções no Ensino, Pesquisa e Extensão (razão de ser do meu cargo e da própria universidade como um todo), sinto a realização da plenitude profissional.

As frustrações são os entraves institucionais para que a universidade consiga mobilizar toda a sua riqueza e diversidade laboral a fim de alcançar seus principais objetivos. Ora, nós não queremos que a universidade seja construída apenas para seu público mais imediato e para os que nela trabalham. Nós queremos que a universidade, enquanto construto social, possa alcançar a sociedade cada vez mais, estabelecendo uma relação orgânica com a mesma. Não a sociedade em abstrato, mas a sociedade que sabemos desigual, preconceituosa, racista, patriarcal, violenta e fragilizada pelo descaso de um país ainda preso a interesses de grupos privilegiados das classes abastadas.

Como sua função/atividades se relacionam com o cotidiano da instituição?

Boa parte desta resposta já aparece nas questões acima. Todavia, penso que por estar lotado na Unidade de Apoio Acadêmico, secretariar reuniões de alguns colegiados ajuda a estabelecer diálogos, (mesmo que muitas vezes informais), com os diferentes atores que compõem o campus em que trabalho. A Unidade de Apoio Acadêmico é local privilegiado para observar o fluxo da universidade, para perceber seus esforços e suas limitações. Durante este período de trabalho remoto, por exemplo, tivemos condições de ver os esforços para atender a complexidade de desafios que a pandemia nos impôs. Já, do ponto de vista da especificidade do meu cargo, por carecermos ainda, (nós, Técnicos em Assuntos Educacionais), de uma visibilidade e um “lugar” institucional, é necessário, constantemente, buscar estratégias para aproveitar as possibilidades de ouvir e de se fazer escutar.

Qual é a importância que você atribui ao desenvolvimento do seu trabalho?

Rafael: Mais do que a importância do meu trabalho em si, penso que a nossa defesa, que precisa ser intransigente, pelas prerrogativas profissionais dos Técnicos Administrativos em Educação, assim definido na lei federal 11.091/2005, nos garante já uma importância e uma tarefa enorme e irrecusável que temos em mãos. Essa nossa luta, o pleno desenvolvimento do nosso trabalho, pode contribuir para a democratização da universidade e, por conseguinte, para que a universidade avance ao encontro das necessidades sociais e dos desafios de desenvolvimento do nosso país.

Diferentemente do que tive o desprazer de ouvir de um docente, em reunião do CAEX, de que eles (docentes) “poderiam até ser generosos com os técnicos”… Não, não estamos pedindo nenhum favor ou suplicando “generosidade” de alguns que pensam ter recebido uma unção divina, transformando-se na representação do único e absoluto locus do saber universitário. Entendo que precisamos fazer valer a nossa identidade de Técnicos Administrativos em Educação.

Mais do que a diferenciação do nível de ingresso na carreira (C, D ou E), o que precisamos garantir é que a universidade faça uso da sua autonomia, premissa constitucional que precisa ser muito mais que um aspecto declaratório, que assuma na íntegra a sua vocação formadora, que olhe para o perfil e desenvolvimento formativo dos seus servidores técnicos, validando-os, independente do nível de entrada em que o mesmo ingressou.  Por isso, respeitando as especificidades de cada cargo, penso que nosso caminho é coletivo e sempre será o quê atribuirá importância ao desenvolvimento de nosso trabalho.

Para  saber mais sobre a atuação dos Técnicos em Assuntos Educacionais clique aqui e leia o excelente texto de Walêska Dayse Dias de Sousa na UFTM.

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