Secundaristas ocupam 30 escolas contra reforma do Ensino Médio

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Os(as) estudantes do Ensino Médio do Paraná já deram o recado: não vão aceitar as mudanças curriculares impostas pelo governo de Michel Temer. Neste momento, 30 escolas do Estado estão ocupadas pela resistência dos(as) secundaristas, incluindo o Colégio Estadual do Paraná, o maior do estado, em Curitiba.

A mobilização nas escolas começou com o Colégio Estadual Padre Arnaldo Jansen, em São José dos Pinhais, na segunda-feira, 3. Em menos de quatro dias, as ocupações se alastraram pela Região Metropolitana de Curitiba (RMC) e por outros municípios paranaenses, como Ponta Grossa e Maringá. Na quarta-feira, 5, cerca de 5 mil estudantes de colégios da capital saíram às ruas do centro de Curitiba para lutar contra a reforma do Ensino Médio.

O principal motivo de protesto é a retirada da obrigatoriedade do ensino de Filosofia, Sociologia, Artes e Educação Física. De acordo com a professora de História e membro da Central Sindical Popular (CSP) Conlutas Karen Capelesso, as ocupações começaram de forma espontânea, por iniciativa dos(as) estudantes. “Os secundaristas permanecem 24 horas dentro da escola, realizando atividades, como aulões, e mobilizando a comunidade. As ocupações que começaram no início da semana continuam, e outros colégios ainda serão ocupados”, conta ela, que está acompanhando os movimentos.

A repressão à luta dos(as) estudantes também já começou. “Tem polícia na porta da escola, abordando os alunos de forma arbitrária. Felizmente, ainda não houve nenhum confronto.” Em algumas escolas, a diretoria se ausenta, em outras, há o apoio de diretores(as), que permanecem no local e participam da ocupação.

Mão de obra acrítica

A retirada da obrigatoriedade de disciplinas específicas simboliza bem a intenção do atual governo: formar mão de obra sem capacidade de pensamento crítico. “O objetivo é precarizar ainda mais o ensino e fazer com que os alunos não tenham senso crítico, é colocar um lógica mercadológica dentro da escola. Sociologia e filosofia são disciplinas que constroem uma visão de mundo, e é extremamente importante que elas sejam mantidas. Elas são parte do conhecimento que a humanidade produziu, e os estudantes têm que ter acesso a isso.”

Determinar que Educação Física e Artes não sejam obrigatórias é dizer que os estudantes não precisam de mais nada além de saber ler, escrever e fazer contas. “É como se todo e qualquer conhecimento para além disso não fosse necessário”, resume a professora. A Reforma do Ensino Médio de Temer também prevê que os secundaristas possam cumprir parte da carga horária fora das escolas, em estágios. “O governo quer fornecer mão de obra barata para o mercado.”

Ataque aos(as) professores(as)

A maioria dos(as) professores(as) apoia a resistência dos(as) estudantes, diz Karen. “Nossa categoria também será atingida. Essa reforma que é a motriz das ocupações é extremamente prejudicial também aos educadores. A exigência somente de ‘notório saber’ para lecionar fará com que não existam mais concursos públicos, acaba a obrigatoriedade do princípio da impessoalidade na seleção. Quem vai contratar essas pessoas? Quem vai averiguar esse ‘notório saber’?”, indaga.

Karen ressalta ainda que há iminência de greve de todas as categorias da educação estadual, incluindo professores(as) e funcionários(as) dos colégios, em protesto à reforma do Ensino Médio.

Sem discussão

A Medida Provisória 746/2016, que altera as diretrizes do Ensino Médio, foi publicada no último dia 22 e pode ser aprovada em até 120 dias pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal. Em caso de aprovação, as mudanças começam a valer no letivo de 2018, segundo o governo.

O que também causou revolta é que a reforma foi imposta sem passar por nenhuma discussão com a sociedade civil, nem pela avaliação de comissões no Congresso Nacional, o que ocorreria caso fosse apresentada em forma de Projeto de Lei (PL).

No dia 23 de setembro, o governo Temer recuou, estendendo a obrigatoriedade da oferta de Filosofia, Sociologia, Artes e Educação Física até o segundo ano letivo posterior à aprovação da reforma. Apesar de dar uma sobrevida a essas quatro disciplinas, a MP continua retirando a garantia explícita de que elas serão ofertadas.

Colégios ocupados

Confira a lista atualizada de escolas ocupadas pela luta dos(as) secundaristas no Paraná:

São José dos Pinhais
Colégio Estadual Elza Scherner Moro
Colégio Estadual Afonso Pena
Colégio Estadual Padre Arnaldo Jansen
Colégio Estadual Costa Viana
Colégio Estadual Silveira da Motta
Colégio Estadual Hebert de Souza
Colégio Estadual Chico Mendes
Colégio Estadual Juscelino Kubitschek de Oliveira
Colégio Estadual Padre Antônio Vieira
Colégio Estadual São Cristóvão
Colégio Estadual Angelina Prado
Colégio Estadual Shirley
Colégio Estadual Guatupe
Colégio Estadual Lindaura Ribeiro
Colégio Estadual Ipê
Colégio Unidade Polo
Colégio Estadual Romário Martinis
Colégio Barro Preto
Colégio Zilda Arns

Curitiba
Colégio Estadual do Paraná
Colégio Estadual Jaime Canet

Ponta Grossa
Colégio Estadual Ana Divanir Borato
Colégio Estadual Polivalente

Maringá
Colégio Estadual Brasilio Itibere

Mandaguaçu
Colégio Estadual Parigot de Souza

Fazenda Rio Grande
Colégio Estadual Cunha Pereira
Colégio Liria Nichele

Pinhais

Colégio Estadual Arnaldo Busato

Luisa Nucada,
Assessoria de Comunicação e Imprensa do SINDITEST-PR.

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