RPC veicula matéria sobre leitos parados no HC, mas é parcial ao apresentar informações

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leitoshc638A RPCTV, afiliada da Rede Globo no Paraná, veiculou na última sexta-feira, 20, uma reportagem a respeito do fechamento de leitos de UTI no Hospital de Clínicas, por conta da greve deflagrada há dois meses pelos técnicos administrativos das universidades federais de todo o país. A direção do Sinditest-PR considera o conteúdo veiculado fora de contexto, sem as necessárias informações que dariam ao telespectador uma ideia mais acertada a respeito do que acontece no HC e, por isso, tendencioso.

O mais importante: segundo funcionários do HC, a UTI que aparece nas imagens da RPC foi fechada há cinco anos, inicialmente para reformas, mas nunca mais reabriu, por falta de pessoal.

Mas isso não é tudo. Enquanto Adonis Nasr, gerente de Atenção à Saúde do HC, tem um espaço de 20 segundos para explicar a posição do hospital, o diretor do Sinditest-PR José Carlos Assis fala por apenas seis segundos. Pode parecer pouco, mas é mais que o triplo do tempo, e em uma peça audiovisual de 2 minutos e 17 segundos, faz toda a diferença na percepção do telespectador. Os editores da emissora nem ao menos tiveram a sensibilidade de escolher um trecho da entrevista em que José Carlos manifestasse a perspectiva dos trabalhadores; colocaram em sua boca uma informação meramente factual, um claro modo de diminuir ainda mais o impacto de suas palavras.

Com algum esforço de pesquisa, ou se houvesse apenas ouvido mais atenciosamente o que tinha a dizer a direção do Sinditest-PR, a repórter da emissora teria descoberto que as UTIs do HC já funcionam muito aquém de sua capacidade mesmo nos períodos em que não há greve, e que essa é justamente uma das reivindicações do movimento de paralisação, a melhora dos serviços prestados aos cidadãos.

A UTI Cardíaca, por exemplo, tem 12 funcionários para oito leitos. De acordo com uma delas, mesmo antes da greve havia dias que a unidade só funcionava porque incorporava técnicos e auxiliares de enfermagem de outros locais, no Adicional de Plantão Hospitalar. Mesmo motivo pelo qual, agora, a direção do hospital diz ser impossível cumprir a determinação da Justiça.

A greve, é claro, tem um inegável custo social. Mas é um custo social temporário, e que pretende justamente pressionar o poder público a corrigir o descaso permanente com que trata a saúde no país. É injusto colocar todo o peso desse custo nas costas de trabalhadores que já operam no limite de sua capacidade física e mental, sem condições ou mínimos equipamentos de segurança.

A RPC não demonstrou a mesma verve na defesa da saúde pública quando veio à tona a informação de que o vice-reitor da UFPR, Rogério Andrade Mulinari, faltava sistematicamente ao trabalho no HC para participar de eventos institucionais irrelevantes, apenas a fim de fazer política, enquanto continuava recebendo como médico – ainda continua.

A reportagem ainda poderia citar, mesmo de passagem, se tivesse boa vontade para tanto, que a decisão da Justiça é uma clara afronta à Lei de Greve, que garante a todos os trabalhadores o direito de cruzar os braços por melhores condições em seus postos. A lei fala da não interrupção total dos serviços essenciais, determinação que foi cumprida à risca pelos funcionários do HC desde o início do movimento. Para tanto, trabalhadores e sindicato organizaram sozinhos essas escalas, já que a direção do hospital se negou a discutir isso – algo que, pela Lei de Greve, deveria se dispor a fazer.

Também foi do Sinditest-PR a proposta, acatada pela Justiça, de suprir a demanda judicial com a distribuição de mais Adicionais de Plantões Hospitalares para os trabalhadores que não aderiram à paralisação. Essa lista começou a ser organizada há mais de duas semanas, enquanto a direção do HC seguia paralisada e agora, sob a ameaça de uma multa diária de R$ 10 mil, pretende jogar todo o peso da opinião pública em cima do movimento grevista, com alguma colaboração de emissoras de TV.

Desde a adesão do HC à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) – que, aliás, dizia-se, resolveria todos os problemas do hospital, mas até agora nada fez – a direção do Sinditest-PR não nutre grandes expectativas sobre a cobertura da imprensa acerca do que acontece no hospital e na UFPR. No entanto, é seu dever se manifestar quando o olhar da mídia alcança tal ponto de distorção, e tentar corrigir o foco para a sociedade na medida do possível, mesmo sem ter o mesmo poderio econômico, a mesma estrutura e a mesma capilaridade da RPCTV, o que torna a batalha de informações um tanto desleal.

Por último, a direção do Sinditest-PR lamenta que o Brasil, no momento, não tenha uma lei que regulamente o direito de resposta em veículos de imprensa, o que deixa a classe trabalhadora à mercê do pensamento único de grandes grupos empresariais.

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