As duas chapas que disputarão nos dias 27 e 28 de setembro a reitoria da UFPR, o terceiro maior orçamento público do Paraná, atrás apenas do governo do estado e da prefeitura de Curitiba, se reuniram na manhã desta sexta-feira, 24, com a diretoria do Sinditest-PR na sede administrativa da entidade. Elas receberam em mãos a “carta aos reitoráveis”, formulada pelo sindicato, com as principais demandas dos técnicos administrativos, e responderam a perguntas.
Entre os temas, estiveram a jornada flexibilizada de 30 horas, a crise dentro do Hospital de Clínicas (HC) e o tratamento dispensado atualmente aos funcionários do hospital contratados via Funpar, que nos últimos meses têm feito reiteradas greves e paralisações, a última com duração de 15 dias.
Na conversa de hoje, as duas candidaturas se definiram como “progressistas” e de oposição ao grupo político que no momento administra a UFPR.
Ricardo Marcelo Fonseca é diretor do Setor de Ciências Jurídicas e candidato a reitor com a vice Graciela Muniz, da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PRPPG). A outra chapa é composta por Marcos Sunyê, do Setor de Ciências Exatas, e Andrea Caldas, da Educação.
Ebserh
A chapa encabeçada por Ricardo Marcelo foi recebida no Sinditest-PR no início da manhã. O candidato se mostrou sensível às questões colocadas pelos técnicos administrativos, mas mais de uma vez destacou que será preciso observar questões jurídicas e “construir alternativas” para superar eventuais entraves. “Qualquer candidato que venha aqui, dê um murro na mesa e diga “deixa comigo, na minha gestão eu resolvo”, é um mentiroso”, disparou.
Ele acredita ser possível revisar o contrato firmado entre UFPR e Ebserh para a gestão do Hospital de Clínicas. “Temos que olhar isso com uma lupa. Ver o que foi prometido e o que não foi cumprido.” E criticou a maneira como a atual gestão conduziu o processo, em 2014. “Uma coisa que o reitor não pode fazer é colocar polícia dentro da universidade e jogar bomba na comunidade.”
Questionado sobre sua posição dentro do Conselho Universitário (Coun) à época da aprovação da Ebserh, Marcelo admitiu ter votado a favor. “Mas com condicionantes”, contemporizou. Entre essas condicionantes, de acordo com ele, estava a garantia da preservação dos empregos do quadro de funcionários da Funpar.
O reitorável aproveitou para censurar a maneira como a candidata a vice da chapa adversária, Andrea Caldas, se posicionou naquele momento, “virando a chave na última hora”. “Aquela era uma situação em que se precisava ter postura”, comentou.
Mais tarde, Andrea Caldas rebateu a acusação, mesmo sem saber da crítica formulada anteriormente. “Eu votei contra a Ebserh, embora naquele tumulto todo ninguém mais soubesse quem era contra ou a favor e eu tenha sido impedida de entrar na sessão”, lembrou. “Não havia uma posição oficial do Setor de Educação, é verdade, porque na época tivemos um problema de quorum.”
Ela reclamou da atual falta de transparência nas sessões do Coun. “Já passou da hora de colocar o Conselho em outro lugar. Até no Congresso Nacional existem galerias, para que as pessoas possam acompanhar as sessões. A sala do Coun hoje não tem espaço nem para os conselheiros. Temos que fazer sessões públicas.”
Marcos Sunyê definiu o contrato da Ebserh, “do jeito que foi discutido e implantado”, como um “absurdo”, principalmente pelo “desprezo” à questão do hospital-escola e pelo fato de o governo ter tentado encaixar realidades de diferentes hospitais, do sul ao norte do país, em um documento padrão. “Se você usa o mesmo plano de uma casa para construir um prédio de três andares, ele vai cair antes de você terminar”, raciocinou, afirmando que o contrato precisa ser rediscutido. “Não tenho uma solução pronta para o HC, seria leviano dizer isso, mas precisamos ser mais agressivos na captação de recursos”, ponderou. “O hospital hoje tem graves problemas orçamentários, graves problemas de pessoal e graves problemas de gestão.”
Jornada flexibilizada
As duas chapas se mostraram abertas a ampliar a jornada flexibilizada de 30 horas para os servidores técnico-administrativos. Ricardo Marcelo voltou a destacar a necessidade de que sejam construídas “alternativas jurídicas” para alguns casos, e repetiu: “Se alguém chegar aqui, bater na mesa e falar “vou garantir para todo mundo amanhã”, estará sendo fanfarrão. Reitor precisa ter responsabilidade.”
Ele exemplificou o raciocínio citando a implantação da nova jornada no Setor de Ciências Jurídicas, o qual dirige há oito anos. “Lá, eu chamei os técnicos para conversar e nós construímos juntos. Hoje, 90% faz 30 horas. Quem não faz é porque optou por isso ou porque tinha um cargo de direção.”
Andrea Caldas também citou seu próprio setor ao defender sua atuação pró-jornada flexibilizada. “Na Educação, assumimos o compromisso com as 30 horas antes de a UFPR aprovar a resolução, em 2011.” Ela afirmou ser necessário repensar também a questão dos servidores que recebem funções gratificadas (FGs), que legalmente não poderiam adotar o regime. E avançou sobre o modelo de ponto eletrônico e controle de jornada. “Nós não concordamos com esse modelo e acho que podemos disputar isso com a CGU [ex-Controladoria-Geral da União, agora Ministério da Transparência]. Podemos fazer o controle das unidades, em vez do controle do trabalhador. Mesmo empresas capitalistas hoje fazem isso.”
A candidata a vice também reprovou a postura de alguns membros do Conselho Universitário, que em 2011 votaram a favor das 30 horas mas hoje se dizem contrários à jornada. “A resolução foi aprovada por unanimidade. Hoje são contra? Por que não votaram contra na época? As pessoas votam de um jeito e depois não efetivam a posição.”
Funpar/HC
Ambas as candidaturas levantaram a possibilidade da abertura de um plano de demissão voluntária (PDV) para atenuar o atual problema dos funcionários do Hospital de Clínicas contratados via Funpar, que podem ser dispensados até 2019, segundo um acordo firmado entre UFPR e Ministério Público do Trabalho. Confrontados com a posição do sindicato, contrário à medida, admitiram repensar o tema.
“Nós vamos ter que encarar isso em 2019, continuar a negociação”, projetou Ricardo Marcelo. “Eu não conhecia a posição do Sinditest-PR [sobre o PDV]. Vamos dialogar, então. Esse canal estava fechado. Agora, vai estar permanentemente aberto.”
“Nesse caso, eu acho que a primeira questão é de competência mesmo”, pontuou Marcos Sunyê. “Se você tirar os funcionários da Funpar do HC, o hospital não vai funcionar direito.” Para o candidato, a administração deve ter o papel de unir as categorias e normatizar questões que hoje são diferentes dentro do próprio corpo dos técnicos administrativos, contratados em regimes diversos de trabalho. “Ou fazemos isso ou daqui a pouco as pessoas vão estar se estapeando dentro do hospital.”
Liberação sindical
Os candidatos também foram questionados sobre a posição das chapas a respeito da liberação de dirigentes do Sinditest-PR para exercerem atividades sindicais. Atualmente, são apenas dois dirigentes liberados, com os salários pagos pelo próprio sindicato. No passado, por um acordo entre Sinditest-PR e universidade, eles chegaram a ser sete. Mas o trato foi rompido pela reitoria.
“Se houver problema, precisamos construir alternativas”, pontuou Ricardo Marcelo. “Queremos uma universidade que deixe o sindicato trabalhar.”
Andrea Caldas foi incisiva. “Eu entendo que a universidade tem autonomia, ainda que a legislação não garanta, para se comprometer com isso. Posso assinar o que estou dizendo.”
Durante a campanha, o Sinditest-PR voltará a convidar os candidatos para um debate, dessa vez com os integrantes da base.