Por causa da desigualdade social entre homens e mulheres, a Reforma da Previdência vai ser especialmente brutal para a população feminina. O Café com Mulheres, programação especial do 8 de março organizada pelo Sinditest e pela APUF-PR, debateu os impactos da PEC 287 nas brasileiras. O evento foi realizado na tarde de ontem no pátio da Reitoria.
Quando um idoso adoece na família, quem fica responsável pelo cuidado, o filho ou a filha? E quando uma adolescente engravida, quem ajuda nos cuidados do bebê, o avô ou a avó? As obrigações com doentes e crianças historicamente recaem sobre as mulheres. Essa é uma das causas das duplas e triplas jornadas de trabalho da mulher, que acumula o emprego fora de casa e os afazeres domésticos – um trabalho não remunerado.
Desigualdade
Somando o trabalho remunerado e o trabalho doméstico, as mulheres trabalham em média oito horas e nove minutos diariamente, enquanto a jornada dos homens é de sete horas e 36 minutos. Os dados são mundiais, da Organização Internacional do Trabalho, e foram apresentados pela assessora jurídica da APUF-PR Andrea Kessler Gonçalves Volcov.
“Além de trabalharem o dobro dos homens nos afazeres domésticos, as mulheres são menos remuneradas. No Brasil, o salário da mulher equivale a 73% do pagamento do homem, no mesmo cargo, exercendo a mesma função, com a mesma formação técnica”, informou a advogada.
A injustiça não para por aí. As mulheres têm mais dificuldade para se aposentarem. “De acordo com o IBGE, 65% das pessoas que estão na idade de se aposentar mas não recebem aposentadoria são mulheres. O que equivale a 200 milhões de brasileiras.” A cada 100 aposentadorias por tempo de contribuição, 66 são de homens e 33 são de mulheres.
A reforma da Previdência vai acabar com a política compensatória de cinco anos existente hoje. Atualmente, as mulheres podem se aposentar cinco anos mais cedo que os homens por tempo de contribuição ou por idade. Com a PEC 287, todos e todas só poderão de aposentar aos 65 anos de idade.
“As histórias de vida do homem e da mulher são diferentes. Não tem como você chegar no final, na hora da aposentadoria, e querer igualar. Não é justo”, disse Andreia. As mulheres trabalham mais, ganham menos e se aposentam menos. A reforma da Previdência vai piorar essa realidade.
Retrocesso
“Nós deveríamos estar indo para a rua para ampliar nossos direitos democráticos. Mas não, estamos tentando evitar que cortem nossos direitos conquistados com tanta luta. A condição de ser mulher está sendo atacada em todo o mundo”, afirmou a coordenadora de Administração e Finanças do Sinditest, Mariane Siqueira.
Ela citou a campanha presidencial de Donald Trump, nos Estados Unidos, que foi marcada pela misoginia – desprezo pelo gênero feminino. “Ele se elegeu após uma campanha em que atacava Hillary Clinton unicamente por ela ser mulher.”
No Brasil, o governo ilegítimo de Michel Temer quer dificultar ainda mais a aposentadoria para as mulheres, e vai cortar pela metade o benefício da pensão por morte. Os(as) pensionistas – dos(as) quais a maioria é mulher – receberão apenas 50% do benefício, mais 10% para cada filho (dependente). Quando os filhos completarem 21 anos, será retirado o adicional de 10%. Viúvas sobrecarregadas por uma vida inteira de dupla jornada de trabalho terão apenas metade da pensão para garantirem sua subsistência.
Um dia nacional de luta para derrubar esse retrocesso foi definido: 15 de março, paralisação geral contra a Reforma da Previdência. Acompanhe as redes sociais do Sinditest para ficar por dentro da programação.
Luisa Nucada,
Assessoria de Comunicação e Imprensa do Sinditest-PR.