Em tempos que se requer uma união para lutas importantes para toda uma categoria, os bastidores do poder sindical ganham novos contornos. O espaço onde os aplausos de regalias ecoavam com força exigiu um processo de reorganização administrativa e financeira. O que antes se chamava privilégio agora soa como um eco distante de uma época em que prevaleciam certos “luxos”.
Mas o que acontece quando as regalias desaparecem? Quando o uso confortável do poder é interrompido por algo tão simples quanto a responsabilidade e o compromisso com o bem público, pois dinheiro e espaços do sindicato são bens públicos, de toda uma categoria? A resposta já foi dada muitas vezes ao longo da história, sempre com os mesmos contornos: os egos se inflamam. Como diria Karl Marx, “a história se repete, primeiro como tragédia, depois como farsa”. E, aqui, a farsa se encontra no desespero de quem perdeu privilégios que jamais deveriam ter existido.
A atual diretoria, com todos os desafios, está diante de um quadro que exigia medidas duras e corajosas. Sedes sociais e de praia, que deveriam ser espaços de lazer para toda a categoria, estavam abandonadas, talvez como reflexo da falta de zelo que tomou conta das gestões passadas. E é nesse cenário que o verdadeiro trabalho emerge: o de quem tem como missão resgatar o coletivo, enquanto cuida das finanças e devolve ao sindicato sua função social.
Mas o que ocorre, então, quando se mexe nesse vespeiro? A perda de regalias expõe o lado mais frágil da alma humana. Uns preferem a construção coletiva, enquanto outros, diante da liberdade perdida das mordomias, buscam a retomada do antigo status a qualquer custo — até mesmo antecipando eleições. O motivo? O temor de perder de vez aquilo que os colocou em um pedestal invisível, mas bastante confortável.
É interessante notar como, para alguns, o privilégio não se limita ao material; é também psicológico, o poder de se sentir “alguém”, desobrigado das regras que os demais seguem. Para esses, reorganizar o sindicato é quase um atentado pessoal. Não porque realmente se importem com a categoria — esta mesma que sofre diariamente, de quem direitos são arrancados e cujas vozes frequentemente são silenciadas, a exemplo da tentativa de anular uma assembleia fundamental para a maior base do sindicato, o Hospital de Clínicas —, mas porque tocar no conforto é doloroso. Friedrich Engels, parceiro de Marx, nos lembrava que “a liberdade de uns termina onde começa a dos outros”. Talvez seja essa a grande lição que parte da diretoria atual tenta trazer à luz: o fim de uma liberdade individual que nunca deveria ter existido, para que a liberdade e os direitos da categoria possam, enfim, prevalecer.
Cabe ao sindicato, consciente de suas responsabilidades, agir em prol do bem comum. As finanças precisam ser equilibradas, as sedes devem ser revitalizadas, e o sindicato, como entidade, deve resgatar sua missão de ser o escudo dos trabalhadores, e não o trampolim dos que o utilizam para benefícios próprios. O verdadeiro progresso não se faz à sombra de privilégios pessoais, mas sob a luz da justiça e do trabalho coletivo.
A luta, como bem sabemos, sempre será sobre quem está disposto a caminhar com a categoria, com os pés firmes no chão, e não de quem prefere estar com os olhos vidrados em suas antigas vantagens.