Na linha de frente no combate à pandemia da Covid-19, causada pelo Coronavírus, os profissionais de Saúde são os mais expostos aos riscos de infecção.
Mesmo com equipamentos de proteção – muitas vezes escassos ou inadequados –, médicos, enfermeiros e demais profissionais estão mais sujeitos a adquirir a doença e até desenvolver mais sintomas. Há países, como a Espanha, cujo grau de presença de trabalhadores da Saúde entre os doentes ultrapassa os 10%. Mas quais fatores que levam a isso?
Carga viral
Um dos fatores de risco para a infecção e o desenvolvimento de formas severas da doença é a carga viral a que os profissionais estão sendo expostos.
O Coronavírus, como os demais vírus, entra no corpo, invade as células e faz cópias de si mesmo. Assim, aumenta sua concentração. Quanto mais vírus no corpo de uma pessoa, a chamada carga viral, mais chances de transmissão para as demais e maior as probabilidades de se desenvolver casos graves de qualquer doença.
Como profissionais de Saúde estão em contato com doentes, podem acabar adquirindo uma carga viral maior do que outras pessoas. Estudos apontam que, normalmente, cada pessoa doente com Covid-19 transmite a doença em média para outras três. No entanto, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), houve caso de paciente de emergência em Wuhan (cidade chinesa que foi primeiro epicentro da doença) que infectou pelo menos 14 profissionais de saúde durante atendimento.
Segundo a cientista Wendy Barclay, do departamento de doenças infecciosas do Imperial College de Londres, na Inglaterra, em entrevista à rede de televisão BBC, mesmo o sistema imunológico de uma pessoa saudável terá extrema dificuldade para combater uma infecção com alta carga viral. Em algumas regiões do Brasil, mais de 50% das pessoas internadas em estado grave possuem menos de 60 anos, e grande parte não tinha problemas de saúde pregressos.
O Coronavírus geralmente se localiza no trato respiratório superior. Por isso é transmissível por gotículas na respiração, na fala, na tosse ou no espirro. O agente infeccioso também é capaz de contaminar superfícies, o que justifica a lavagem frequente das mãos.
A ciência ainda não descobriu quantas partículas são necessárias para infectar uma pessoa, pois nunca um vírus da família dos coronavírus teve um surto desse tamanho. Em outra família de vírus, os influenza, apenas três partículas são necessárias para causar a infecção.
Falta de proteção
Profissionais da Saúde não estão sujeitos ao contágio apenas por estarem em contato constante com pacientes portadores do Coronavírus, há outros fatores de risco.
Dependendo da superfície, o vírus pode permanecer no ambiente por dias.
Além disso, vários estudos no Brasil estão indicando a subnotificação de casos. Estima-se que apenas 7% a 8% dos casos estão confirmados porque o Brasil é um dos países que menos testa a população. Isso faz com que muitas pessoas doentes, mas assintomáticas ou com sintomas leves continuem circulando, inclusive no ambiente hospitalar.
A falta de equipamentos de proteção individual (EPI) também é outro fator agravante. O Sinditest-PR chegou a ingressar com pedido na Justiça para que todos os funcionários que atuam no Hospital de Clínicas (HC) da UFPR tenham acesso a EPIs [veja neste link aqui].
Percentuais
No mundo, entre 4% e 12% dos profissionais de saúde da linha de frente se infectaram, de acordo com estatísticas, em vários estágios da pandemia.
No entanto, a própria OMS afirma que na epidemia com agente infeccioso mais parecido que houve até hoje, a Síndrome Aguda Respiratória Grave (Sars), em 2002 e 2003, profissionais de saúde corresponderam a cerca de 21% dos casos.
Sem condições de controle, hospitais podem se tornar centros de disseminação da doença. No Reino Unido, médicos afirmaram à BBC, sob anonimato, que pacientes com outras doenças receberam alta antecipada por causa do risco de contrair o Coronavírus no hospital.
Fonte: Sinditest-PR