Onde estão os privilégios? Qual a melhor aplicação do dinheiro público? Será mesmo que são os trabalhadores do funcionalismo os “marajás” de hoje?
Não é de hoje que são criadas narrativas para levar parte da população a enxergar os servidores públicos como “os privilegiados da nação”.
Esse ataque não é inédito. No final dos anos oitenta, por exemplo, o então presidente Fernando Collor se dizia “caçador de marajás”. Ele também tinha como alvo os servidores. Mas no final, sofreu processo de impeachment por corrupção e abandonou o cargo antes do fim do mandato.
Agora, quem repete o mesmo discurso de Collor é o presidente Jair Bolsonaro e os membros de seu governo.
Para Daniel Mittelbach, coordenador-geral do Sinditest-PR, esse desrespeito vindo do Governo Federal não atinge só os trabalhadores, afeta toda a população: “O servidor público trabalha para o povo e tem esse compromisso de contribuir para o crescimento e desenvolvimento do país com seu trabalho. Um servidor qualificado é o melhor investimento para a sociedade”.
Os serviços públicos são essenciais porque beneficiam especialmente (mas não só) a população mais carente, aqueles que não podem pagar para ter qualidade de vida.
Especialmente em um país tão desigual como o Brasil, acabar com os serviços públicos é deixar parte considerável da população sem acesso a atendimentos básicos.
O HC-UFPR atende exclusivamente pelo SUS, recebe milhares de pacientes semanalmente, além de ser uma referência em procedimentos de alta complexidade, como transplantes de medula óssea.
A universidades públicas também são fontes de inclusão social: 70% dos alunos são provenientes de famílias de baixa renda.
Agora, a política contra os servidores públicos vai tomando forma pela Reforma Administrativa, uma proposta que o governo está desenvolvendo, mas que já indica alguns perigos:
- enxugamento máximo das estruturas e do gasto com servidores, com extinção de órgãos, entidades, carreiras e cargos;
- redução do quadro de pessoal
- fim dos concursos públicos, contratando apenas pela CLT;
- redução de jornada com redução de salário;
- carreirão horizontal e transversal, com mobilidade dos servidores;
- fim da estabilidade, para facilitar a demissão;
- ampliação da contratação temporária;
- terceirização ao máximo, inclusive nas atividades-fim;
- escancarar a criação de organizações sociais para atuarem em qualquer área ou órgão do governo;
- regulamentação, de modo restritivo, do direito de greve do servidor público, para impedir paralisações e mobilizações.
Para Daniel Mittelbach, com a Reforma Administrativa, o governo Bolsonaro demonstra sua vontade de acabar com os serviços públicos. “Desde o começo, o governo deixou claro que sua prioridade é beneficiar o setor privado, transferindo para empresas e grupos econômicos prerrogativas que são do serviço público”.
Daniel também ressalta que o governo sabe que os servidores geralmente são mais mobilizados do que trabalhadores de outras categorias. “Esse é um ponto que incomoda bastante um governo de viés autoritário como esse. Por isso, eles pretendem implementar medidas para impedir as greves, mobilizações e manifestações dos servidores”, explica.
Mas enquanto o governo caminha a passos largos para perseguir os servidores e acabar com os serviços públicos, continua jogando as pessoas umas contra as outras, com pautas (falsamente) moralistas, mentiras e muita demagogia.
Fonte: Sinditest-PR