A subnotificação de casos da Covid-19 (doença causada pelo Coronavírus) coloca em risco os profissionais de Saúde. A escassez de testes e números que não correspondem à realidade da pandemia impedem estratégias mais efetivas de combate à doença e podem dar a ilusão de que o problema é menor do que realmente é.
A conta estoura em quem está na linha de frente do combate, correndo riscos de infecção e aumentando a carga de trabalho porque novas infecções não conseguem ser interrompidas. Quanto mais pessoas são atendidas com a doença, maior a chance de infecção dos profissionais de saúde.
Incompetência ou arma política?
Esta alta taxa de subnotificação pode ter duas causas muito graves e nada impede que elas estejam combinadas.
A primeira é incompetência. Pela posição geográfica com relação ao início da pandemia — iniciada no hemisfério norte e com ápice anterior na Europa —, o Brasil teve mais tempo para se preparar para a pandemia com aquisição de testes, respiradores, equipamentos de proteção individual (EPI), entre outras medidas. Mas o presidente da República, Jair Bolsonaro, tomou outra direção e tentou diminuir a importância e a severidade da doença, incentivando aglomerações e sabotando todo o trabalho das equipes de Saúde.
Como consequência, a epidemia ainda nem chegou ao pico no Brasil e algumas cidades e estados já estão com o sistema de Saúde entrando em colapso. Essa irresponsabilidade será responsável pela morte de muitos profissionais de Saúde e de milhares de brasileiros.
Agora, se a subnotificação for proposital e estiver sendo usada como arma política, seria algo ainda mais perverso. Contrariando todos os líderes mundiais e especialistas renomados das mais diversas áreas, Jair Bolsonaro vem reiteradamente afirmando, contra todos os prognósticos possíveis, que o vírus já está indo embora, e vem pedindo o fim do isolamento social (no dia 16 chegou a pedir a volta às aulas). Isso pode levar a um colapso imediato dos sistemas de Saúde e dos sistemas funerários.
Portanto, números mais baixos, mesmo maquiados, viriam a calhar para apoiar esta narrativa irresponsável de retomada das atividades cotidianas.
Com todas evidências e provas científicas contrárias, Bolsonaro é o maior negacionista da Covid-19 do mundo, apontado por jornais de vários países como o pior líder mundial na pandemia.
Foi por causa dos pronunciamentos de Bolsonaro que muitas pessoas passaram a relaxar e o isolamento social caiu abaixo do necessário para efetivamente frear a curva de contágio do Coronavírus. Isso já está estourando nos profissionais de Saúde, cada vez mais expostos e sobrecarregados.
O caso causado pela pandemia serve como uma luva para que o governo brasileiro esconda um dos pontos mais fracos do governo, que é a área econômica. Mesmo sem a pandemia, a economia brasileira cresceu em 2019 abaixo dos índices dos anos anteriores, do governo Temer. O caso gerado pela pandemia certamente será usado como desculpa pelo presidente para explicar os fracassos do presente e do futuro. É uma jogada política tenebrosa que visa apenas as eleições de 2022. O problema é que Bolsonaro está usando a vida dos brasileiros nesta aposta.
A cada dia de crise, perde-se tempo no combate à doença. O conflito de informações também confunde a população.
Isso também esconde a incompetência das várias esferas de governo no combate à pandemia, pois alguns bons números locais podem estar surgindo apenas pela demanda reprimida de testes e a curva na realidade pode não estar sendo achatada, apenas maquiada.
Para o Sinditest-PR, seja por incompetência ou por uso da subnotificação como arma política, os mais ameaçados são os profissionais de Saúde, que precisam encarar diariamente o horror de uma pandemia e o descaso de um presidente que deveria fazer de tudo para vencer esta crise, mas age com irresponsabilidade e coloca a vida da própria população em risco.
Efeitos da subnotificação
Um retrato da subnotificação é que, no Paraná, apenas na primeira semana de abril houve um aumento de 400% das internações por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), que pode ser causada pelo Coronavírus, mas não entram nas estatísticas oficiais porque não há testes suficientes.
De forma contraditória, o Ministério da Saúde, que já admitiu a subnotificação, afirma estar usando os dados oficiais para traçar estratégias, o que não parece ser muito eficaz.
Pelo menos dois estudos apontam que apenas entre 7% e 8% dos casos reais estão notificados. Os números reais de infectados e de mortos podem ser de 12 a 15 vezes superiores aos que estão sendo noticiados. Via de regra, os serviços de Saúde só estão autorizados a testar pacientes em casos graves com internação hospitalar e há várias pessoas que morreram com sintomas iguais à da Covid-19, aguardando teste para descobrir a causa.
No dia 11 de abril, quando os números oficiais indicavam 20.277 casos (hoje já passam de 30 mil), um grupo independente de cientistas e estudantes de universidades brasileiras chamado A Covid-19 Brasil calculou que o Brasil poderia ter perto de 313 mil casos, o que seria 15 vezes superior aos dados oficiais.
Fonte: Sinditest-PR