No país que mais mata pessoas trans, o 29 de janeiro é marcado pelo Dia da Visibilidade das Travestis e Transexuais. Envolta por um contexto de violência e vulnerabilidade social, a população T luta pelo respeito à identidade de gênero, orientação sexual e direitos básicos que lhe são negados.
A data foi escolhida porque em 29 de janeiro de 2004, pela primeira vez na história brasileira, travestis e transexuais foram ao Congresso Nacional para falar aos(as) parlamentares brasileiros sobre a realidade da população T.
Violência
O Brasil é o país no qual mais se mata pessoas trans no mundo. Entre 2008 e 2011, foram 325 assassinatos de transexuais e travestis, contra 60 no México e 59 na Colômbia. Os dados foram apresentados pela pesquisadora Jaqueline Gomes de Jesus no “IV Seminário Internacional: Direitos Humanos, Violência e Pobreza”, em 2012.
Os crimes de ódio são executados em sua maioria com brutalidade: várias facadas, alvejamento sem aviso e apedrejamento. A violência tem relação com a falta de políticas públicas no Brasil e a ridicularização da mídia às travestis e aos homens e mulheres transexuais.
Segundo Jaqueline, os assassinatos são “a ponta do iceberg”, sustentada pelo descaso do Estado e da população brasileira, e pela mídia, que restringe os temas ligados à transexualidade a reportagebs sobre cirurgias e mudanças de nome.
A vida de pessoas trans é mercada também por outros tipos de violência. Preconceito, expulsão de lares e escolas, falta de oportunidades de trabalho, desrespeito ao nome social – o nome pelo qual a pessoa escolhe ser chamada – são algumas das agressões que a população T tem de enfrentar cotidianamente.
O resultado é a informalidade e a prostituição como única alternativa de sobrevivência. Se a reforma da Previdência preocupa os(as) trabalhadores(as) cisgêneros (que se identificam com o gênero que lhes foi designado ao nascer), o direito social à aposentadoria sequer é acessado pelas pessoas transgêneras.
A realidade da prostituição nas ruas deixa as pessoas T expostas e vulneráveis à violência. A expectativa de vida de transexuais e travestis no Brasil é de apenas 35 anos.
“Humor” que desumaniza
Muitas pessoas fazem piadas utilizando termos pejorativos, como “traveco”, para se referirem a travestis ou mulheres trans. Ou mesmo propagam a ideia de que mulheres transexuais não são mulheres de “verdade”.
Para a maioria, essas ideias não são encaradas como agressivas ou preconceituosas, tão grande é a naturalização da violência e a invisibilização das pessoas trans. O fato preocupa, de acordo com a pesquisadora Jaqueline, porque a população T é desumanizada ao ser submetida diariamente a estereótipos reproduzidos pelos meios de comunicação e pela sociedade em forma de humor. A desumanização é atroz porque o homicídio de alguém que não tem status de humano não choca – e nada é feito para combatê-lo.
Em Curitiba, associações como o Transgrupo Marcela Prado acolhem pessoas transgênero vítimas de violência e luta pelos direitos dessa população. Lutar contra a transfobia é uma das bandeiras do Sinditest.
Luisa Nucada,
Assessoria de Comunicação e Imprensa do Sinditest-PR.