Uma delegação de 58 pessoas num universo de cerca 2,3 mil militantes forma um dos grupos em mais evidência no 2º Congresso Nacional da CSP-Conlutas. São servidores públicos, metalúrgicos e bancários do Paraná. Em parte, professores da rede estadual, que este ano protagonizaram o momento mais dramático da luta de classes no Brasil: a “batalha do Centro Cívico”, no dia 29 de abril, quando enfrentaram mais de dois mil policiais em um protesto que tentava impedir as mudanças propostas pelo governador Beto Richa (PSDB) no fundo de previdência do funcionalismo público.
No Congresso da CSP-Conlutas, os 23 educadores paranaenses trazem a experiência da luta com um governo acuado e que mesmo assim se recusa a negociar em termos aceitáveis, mas também buscam recarregar o ânimo para manter a greve no estado, que já dura 42 dias. No plenário, formam um dos grupos mais empolgados, com tambores e vozes que puxam palavras de ordem de maneira incansável. “Segue o exemplo / do Paraná. / Greve geral, / greve geral / pra unificar”, cantam. Pessoas vestidas com a camiseta do movimento ‘Fora, Beto Richa’ não são raras no Congresso. Na noite de sexta-feira, 05, a votação em plenário era conduzida por uma delas: Joaninha de Oliveira, da secretaria executiva nacional da CSP. “A gente sabe que a vitória da nossa classe só vai acontecer se aquele governo cair”, diz Karen Capelesso, professora em Curitiba. “E esse Congresso aglutina forças que em todo o país enfrentam as diretorias cutistas, que prestam um desserviço. Então, daqui a gente vai levar mais força”, explica.
Karen faz parte do grupo de oposição à atual diretoria da APP, o sindicato que representa os professores da rede estadual do Paraná. A APP é filiada à CUT e a maioria maciça de seus diretores é ligada à Democracia Socialista, corrente interna do PT. Para Karen, a forma como os diretores conduzem a greve no Paraná é excessivamente burocrática. “Mas, pelo fato de a categoria estar com muita vontade de lutar, acaba arrastando a direção”, diz. Ela também critica o fato de a APP ainda não ter se incorporado ao movimento ‘Fora, Beto Richa’, que mantém comitês nas cidades de Curitiba, Piraquara, Pinhais, Maringá, Londrina e Sarandi. A causa foi puxada logo após a ‘batalha do Centro Cívico’, pela oposição de esquerda aos governos federal e estadual, mas tem crescido e já incorporou também o PT. “Nosso receio era que o movimento ficasse muito restrito, só com a gente, mas agora a perspectiva é avançar bastante”, analisa um professor paranaense.
As camisetas vendidas no Congresso pretendem não só custear a vinda da delegação de professores paranaenses, mas também financiar esse movimento.
Karen Capelesso, professora da rede pública do Paraná.
Somados aos educadores, a delegação paranaense traz 24 representantes do Sinditest, o sindicato dos servidores da educação federal do Paraná, que acompanha de perto a greve dos docentes estaduais. No dia 29 de abril, a direção do Sinditest estava com os professores no Centro Cívico quando o gás lacrimogênio tomou a Praça Nossa Senhora de Salete como se fosse a fumaça de um incêndio. “Nós sabíamos que ia ser muito difícil parar o Governo Beto Richa, mas queríamos que isso politicamente custasse caro para o governador”, explica Márcio Palmares, um dos diretores. Funcionou. Reeleito no primeiro turno em outubro do ano passado, a popularidade de Richa derreteu em um curto espaço de tempo, enquanto o governador também precisa lidar com denúncias de corrupção na Receita Estadual, que envolvem inclusive a primeira-dama, Fernanda Richa. “O processo é educativo. As pessoas em geral estão reconhecendo a greve como uma ferramenta legítima do trabalhador. Ninguém chama os professores de ‘vagabundos’ por estarem em greve, todo mundo apoia”, explica Carmen Luiz Moreira, também da diretoria do Sinditest.
Os servidores técnico-administrativos das universidades federais do Paraná também estão paralisados, desde o dia 29 de maio, a exemplo dos trabalhadores de outras universidades do país. Dentre outras pautas, a greve dos servidores da educação federal reivindica reposição salarial de mais de 27,3%, referente a perdas inflacionárias acumuladas desde 2011, além do estabelecimento de uma data-base para a categoria. A primeira assembleia da paralisação contou com mais de 600 pessoas. “Eu não me lembro da última vez que a greve começou tão forte”, constata José Carlos de Assis, do Sinditest.
Uma das grevistas é Ana Paula de Oliveira, servidora da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), campus Pato Branco, que encara o Congresso da CSP-Conlutas como um espaço de formação. Ela se incorporou recentemente à luta política e há um ano e meio faz parte de sua seção sindical. Do Congresso, pretende levar os argumentos para aprofundar o processo de conscientização de sua base. “No interior, as pessoas estão um pouco perdidas. Elas sabem que existe um sindicato, mas não tem clareza do processo, da luta política que está por trás dele”, explica.
Se depender das mais de duas mil pessoas que diariamente enchem o plenário do Congresso da CSP-Conlutas, elas passarão a ter. Por todo o país.
Sandoval Matheus
Assessoria de Comunicação do Sinditest