Mesmo com a chuva, que não deu trégua durante toda a tarde no centro da cidade, Curitiba realizou pela primeira vez, no domingo, 22, a Marcha pela Diversidade. O evento encerrou uma semana de debates, oficinas e seminários que começou na segunda, 16, em diversos órgãos públicos e privados, em defesa dos direitos da comunidade LGBT.
De acordo com os organizadores, cerca de 500 pessoas participaram do ato, mesmo com o mau tempo. A concentração foi na Praça Santos Andrade e o trajeto, até a Boca Maldita, onde um palco montado recebeu shows como o do coral gay de Curitiba, de drag queens locais e do músico curitibano Leo Fressato.
A presidente do Transgrupo Marcela Prado, Rafaelly Wiest, conta que a organização da Marcha cogitou cancelar manifestação, por conta da chuva. “Por ser a primeira vez, a gente já trabalhava com um número reduzido de pessoas, 1,5 mil no máximo. É claro que essa chuva assustou muita gente. Foi pensado em cancelar. Mas eu bati o pé e disse: se tiver dez pessoas, vamos fazer do mesmo jeito”, conta.
“Quem veio foi por uma questão cívica mesmo, política, de defesa de direitos”, emendou a transexual Brenda Montilla, atual Miss Brasil Gay.
Na terça-feira, 17 de maio, foi celebrado o Dia Internacional Contra a Homofobia e Transfobia. Foi nessa data, em 1990, que a homossexualidade foi retirada da Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Apesar disso, atualmente o Brasil ainda é responsável por 44% de todos os assassinatos de integrantes da comunidade LGBT que ocorrem no mundo, de acordo com levantamento da ONU. Segundo dados de ONGs ligadas à área, apenas este ano o país matou 110 travestis e transexuais.
A Marcha pela Diversidade não se confunde com a Parada da Diversidade LGBT, que em 2016 acontecerá em Curitiba no dia 13 de novembro. “A Parada acontece um dia, é um evento social, de visibilidade, festivo. A Marcha, e todos os debates que a antecederam, se pretende mais política, como um fórum de discussão”, esclarece Anderson Spier Gomes, da diretoria de Combate a Opressões do Sinditest-PR. O sindicato foi um dos apoiadores da Marcha pela Diversidade.
Politização
Mesmo sem a provocação do carro de som, durante a passeata, ou do palco montado na Boca Maldita, em alguns momentos da Marcha surgiram gritos espontâneos de “Fora, Temer!” por parte dos manifestantes. “Aquele era um momento de festa, de celebrar, sim. Mas também era um momento de botar a cara para bater e defender os nossos direitos. A gente conquistou poucas coisas esses anos todos, mas o que a gente conquistou não vai aceitar que seja retirado. A comunidade LGBT está preocupada com algumas coisas que estão acontecendo”, explica Anderson Spier Gomes.
Durante a Semana da Diversidade, que antecedeu a Marcha, debates, oficinas e seminários sobre os direitos LGBTs aconteceram em quatro universidades e quatro colégios da capital paranaense. Segundo Luiz Fernando Pistori, do Grupo Dignidade, dentro das escolas a receptividade é boa, mas encontra resistência nos pais dos estudantes. “Quando o aluno chega em casa e conta o que aconteceu na escola, a gente tem um problema. Os pais são contra esse diálogo. E o que forma esse senso comum, a gente tem que admitir, são as questões religiosas, que batem de frente com o nosso debate.”
Para Anderson Spier Gomes, o atual momento contribuiu para o sucesso da Marcha apesar do mau tempo. “Quinhentas pessoas embaixo daquela chuva toda, correndo o risco de acordar todo mundo gripado no outro dia, eu achei muito bom. As pessoas percebem que nesse momento é preciso algum tipo de manifestação para defender os nossos direitos.”
Sinditest-PR não pode ficar isolado
Proposta da nova gestão, que assumiu no início deste ano, a diretoria de Combate a Opressões desenvolve trabalhos para defender os direitos de mulheres, da comunidade LGBT e combater o racismo. Junto à comunidade LGBT, o Sinditest-PR também já apoiou este ano o Dia da Visibilidade Trans, em janeiro.
Anderson Spier Gomes acredita que esse é justamente um dos papeis desse setor dentro da diretoria do Sinditest-PR. “Não podemos ficar isolados dentro do sindicato. Temos que sair. Nos aproximar dessas ONGs que acompanham a comunidade. Às vezes tudo o que elas precisam é de alguém que esteja lá e auxilie na organização de um ato, ou entregue um kit de testagem”, diz ele. “A gente nem sempre pode contar com o governo apoiando a causa. E não sabemos o que vem por aí. Temos de nos unir”, conclui.
Sandoval Matheus,
Assessoria de Comunicação do Sinditest-PR.