Os trabalhadores da saúde do Hospital de Clínicas (HC) da UFPR estão na linha de frente no combate à pandemia do Coronavírus (que causa a Covid-19). São pessoas que têm papel fundamental para que o máximo possível de vidas sejam salvas nessa que é considerada a maior crise mundial desde o final da Segunda Guerra Mundial.
Por outro lado, os trabalhadores da saúde são a categoria profissional mais exposta aos riscos de infecção. Só a título de exemplo, informações do governo da Espanha indicam que das 135 mil pessoas com a doença confirmada, pelo menos 14% trabalham em serviços de Saúde.
No HC-UFPR, há uma enorme preocupação com a quantidade insuficientes de EPIs. Há situações dramáticas o relato de uma enfermeira do HC que decidiu trabalhar de fraldas para que não tivesse que gastar o EPI que havia recebido, já que é escasso. A situação acende um alerta mesmo antes da crise atingir o seu pico.
Irresponsabilidade
Com a crise avançando, há medo de escassez e que trabalhadores fiquem ainda mais expostos. Medo que cresce com as notícias de que os Estados Unidos atravessaram compras brasileiras de equipamentos na China (no que a Alemanha, também prejudicada, chamou de “pirataria moderna”), deixando desguarnecidas as necessidades nacionais, principalmente porque o Brasil é um país sem autossuficiência na produção de insumos médicos (a crescente desindustrialização custa caro ao país).
Para piorar, membros do governo estão criando de maneira irresponsável animosidades diplomáticas com a China, em atitudes que envergonham o passado da diplomacia nacional, e que colocam em risco contratos futuros tanto na área médica quanto de produtos diversos. As irresponsabilidades dos filhos do presidente, do ministro das Relações Exteriores e agora do ministro da Educação estão criando problemas diplomáticos com o principal fornecedor de equipamentos de proteção individual (EPIs) e insumos médicos.
“De foma irresponsável, o presidente Bolsonaro, seus filhos e membros do primeiro escalão do governo vão na contramão do planeta, adotando uma linha de condução e conflitos que poderão levar milhares de brasileiros à morte”, afirma o coordenador-geral do Sinditest-PR, Daniel Mittelbach.
Estrutura
Por mais que todos estejam se desdobrando aos novos desafios da pandemia, dentro do HC-UFPR há um forte clima de incerteza. Os trabalhadores aguardam a decisão de como departamentos especializados em alguns tipos de tratamento estão sendo adaptados para virar UTI, se terão alguma estrutura para atender às suas áreas de origem em emergências e qual o destino desses pacientes que tratam doenças crônicas.
“O hospital tem fechado setores inteiros para liberar leitos para atendimento a casos de Coronavírus. Isso tem acarretado no não atendimento de pacientes crônicos. Muitas consultas e internamentos desmarcados. Além disso os funcionários estão sendo remanejados sem muitas informações”, afirmou uma trabalhadora do HC sob condição de anonimato.
Vários profissionais de Saúde que em muitos anos de profissão nunca trabalharam com cuidados intensivos de pacientes críticos, convivem agora com a insegurança. “Isso deixa pessoal muito ansioso, pois tem gente que não tem experiência com tratamento de pacientes críticos e há todo o medo de vírus”, revelou outra servidora.
Há muita ansiedade também com a questão de adicionais por insalubridade em setores que normalmente não apresentam grandes riscos e com a conversão se tornarão áreas sensíveis para receber pacientes da infectologia, área que foi convertida em setor da Covid-19. Os adicionais precisam ser aumentados com esta nova condição de trabalho. “E até agora não disseram nada sobre isso às equipes”, relatou mais uma trabalhadora do HC.
Também há problemas estruturais que precisam ser sanados. “Temos também um sistema de informática o SEI de baixa qualidade, complexo, espinhoso”, relatou o técnico administrativo Alfredo Cunha. As limitações do sistema podem tirar agilidade do planejamento do trabalho na unidade e das medidas de gestão de pessoal.
Se ainda há muito a melhorar no quesito estrutural, também preocupa as falhas de gestão que não contribuem para a harmonia e isonomia entre os vários segmentos de trabalhadores, como os vinculados à Reitoria e à EBSERH.
Ainda em risco
Outra preocupação dos trabalhadores é o fato de ainda haver pessoas com mais de 60 anos na linha de frente, o que contraria as normas de segurança criadas para a pandemia. É um grupo duplamente vulnerável, já que a convivência no ambiente hospitalar aumente as chances de contágio e pessoas acima de 60 são a imensa maioria dos casos fatais causados pela doença.
O Sinditest-PR está em constante diálogo com as trabalhadoras e os trabalhadores do HC-UFPR, recebendo demandas e lidando com cada uma delas. Para o sindicato, a prioridade é proteger os profissionais de Saúde, para que também tenham condições de continuar salvando vidas.
Fonte: Sinditest-PR