Depois de ler as notícias de que começa a ser efetivada a “grande ideia” de Lula de acelerar acordos de leniência com as empresas envolvidas na operação “Lava-Jato”, tive o impulso de recorrer a uma rápida pesquisa na internet para buscar uma possível origem do termo popular brasileiro: “No Brasil tudo acaba em pizza”.
Encontrei, assim, uma explicação que, de longe, me pareceu ter o grau de seriedade e promiscuidade que a atual ideia revela. Não obstante, confesso, a referida pesquisa, momentaneamente, me contemplou.
“Diz a lenda que certo dia houve uma calorosa discussão entre diretores do clube do Palmeiras, em São Paulo. Depois da reunião, todos, parecendo alheios à briga, foram a uma pizzaria e deixaram a confusão para trás. É daí que surge a expressão “No Brasil tudo acaba em pizza”. A explicação é dada pelo jornalista Eduardo Martins, autor do Manual de Redação do jornal O Estado de São Paulo.
O tema, porém, como anunciei acima, não tem a ver com o fato que deu origem ao “dito popular” citado, ainda que, de pronto, essa coisa me tenha vindo à cabeça. A coisa que trato é mais séria. Digo, pois, que o que está sendo encaminhado é um grande “acórdão” pra salvar as empreiteiras corruptas envolvidas na “Operação Lava-Jato”.
Em uma visão prática seria o seguinte: as “autoridades” pegam um ladrão, que tem uma longa ficha de crimes, ele confessa parte dos roubos, daí, o Estado brasileiro, faz um acordo para que ele pague uma pequena parte do que assaltou e, assim, poderá continuar livre para fazer outros roubos, no caso, outros contratos com o país. Voltando às “pizzas”, eis aí, uma, tamanho família!
Não fossem suficientemente escandalosas essas ações, os dirigentes das maiores centrais sindicais como Força Sindical, CUT e UGT, por exemplo, participam dessa “festa” e ainda falam convictos de que estão “ajudando” o Brasil. “É difícil ver empresas fechando, trabalhadores perdendo emprego. Não dá mais. Por isso vamos chamar as principais lideranças empresariais envolvidas, mas também empresários de comércio e os bancos. Precisamos de um acordo para o desenvolvimento voltar”, disse, o secretário geral da CUT, Sérgio Nobre. Nada poderia ser mais leniente, ou dito de maneira mais formal, “tolerante com algo indigno” do que vergonhosa atitude.
Nossa central, a CSP-Conlutas, não concorda com essa lógica que, juntamente com o atrelamento e defesa, nada velados, do governo está recheada da velha concepção de colaboração de classes. Não que hoje isso nos cause espanto, tendo em vista que essa prática já vem sendo desempenhada por esses setores que, “em nome dos trabalhadores”, já acordaram desde contra-reformas da previdência, na era FHC, Lula e agora com Dilma, passando pelas chamadas “câmaras setoriais”, na década de 90, até os dias de hoje onde “comemoram” o chamado PPE (Programa de Proteção do Emprego) que, na prática, permite reduzir salários em até 30%.
Não em nosso nome!
Lugar de corruptos e corruptores é na cadeia e com os bens confiscados. Essa sim é uma ideia simples e popular com a qual os trabalhadores concordam e corroboram.
Frente aos escândalos ocorridos na Petrobras, nossa defesa deve, sim, ser dos empregos, dos salários e dos direitos dos trabalhadores. Mas isso não tem nada a ver com “chamar as principais lideranças empresariais envolvidas, mas também empresários de comércio e os bancos…”, para garantir que nossa classe não seja penalizada. Aliás, basta recorrermos aos fatos recentes para que comprovemos que não é verdade que salvar os empresários e suas empresas privadas traz qualquer garantia de emprego ou de direitos, como tenta induzir o dirigente da CUT. Pelo contrário, alegando a crise, o que esses senhores tem nos empurrado é diminuirão de salários e o fechamento de milhares de postos de trabalho.
Desculpem-me “companheiros”, mas agindo assim, vocês, me fazem recordar de outro “dito” popular que nos alerta de que: “Quem paga manda”. O que pensar de tal atitude? Não. Não em nome dos trabalhadores! Não podem realizar tal disparate, tal abandono do classismo, dizendo-se na “defesa de nossa classe”. Nossa obrigação é o oposto disso, pois a defesa dos interesses de quem trabalha são inconciliáveis com os de quem explora e rouba.
Para enfrentarmos o cenário que se apresenta, devemos exigir do governo que garanta estabilidade no emprego para todos, que reduza a jornada, sem reduzir os salários e que estatize as empresas corruptas, sem indenização sob o controle dos trabalhadores, confisque os bens dos corruptos e corruptores e coloque na cadeia aqueles que roubam nosso país.
Apesar de um tanto indignado, renovo aqui o chamado a que a direção dessas organizações rompam com Dilma, e mesmo com o PSDB (parte da direção da Força Sindical o apoia) e, juntos possamos unir a nossa classe, os trabalhadores, pobres, jovens e negros de nosso país, para a construção de uma greve geral. Não foram os trabalhadores que roubaram a Petrobrás, não devemos nada nesse mar lama!
Não sejamos lenientes em relação à luta de classes!
Por Atnágoras Lopes – Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas
Fonte: CSP-Conlutas