Foi aprovado, no dia de Luta das Mulheres – 8 de março, em primeiro turno na Câmara Municipal de Curitiba, o Projeto de Lei 005.00106/15, que garante a presença da doula como acompanhante da gestante durante o parto e no período de parto imediato em hospitais da rede pública e privada. As doulas são acompanhantes responsáveis pelo suporte organizativo, emocional, afetivo e físico das parturientes
Mulheres – gestantes e não gestantes – e crianças participaram no Ato para pressionar a aprovação do PL.
Atualmente as mulheres têm direito de apenas um acompanhante no momento do parto, geralmente é o pai da criança. A resistência com a presença da doula ainda é grande nas instituições. “A presença do companheiro é uma coisa, a presença da doula tem outra proposta e a gente não quer escolher entre o pai e a doula”, explica Andressa Bassin, mãe pela primeira vez recentemente.
A garantia da presença da doula no momento do parto significa a garantia de apoio e respeito ao planejamento de parto da gestante. “Foi essencial. Foi essencial mesmo. Eu tenho certeza se não tivesse a doula comigo eu teria desistido do parto natural e teria feito cesárea. Ela reforça a nossa vontade que é anterior à dor na hora do parto”, relatou Flávia Dezem, psicóloga e doula em formação.
Em Belo Horizonte a lei que garante a presença de doulas nos hospitais já está valendo desde o último dia 4. Em Curitiba o projeto é de autoria do vereador Colpani (PSB).
Doula não é profissional da saúde
O PL que trata da temática voltou a ser debatido no dia 9 de março. A emenda que queria obrigar as doulas a terem formação específica na área da saúde foi derrubada. Este foi o ponto mais decisivo no entendimento real do trabalho das doulas, já que nas suas atribuições não há necessidade de nenhum procedimento técnico, conforme consta da Classificação Brasileira de Ocupações, de 2002 (CBO). “Ela não precisa ser profissional da saúde. Sua função é de apoio emocional, psicológico e físico”, afirmou Flávia.
Além disso, a função da doula é muito antiga e atualmente tem sido a de reintegrar a rede de apoio entre as mulheres. “Historicamente a doula ocupa o papel de solidariedade, de acolhimento que nossas avós e nossas ancestrais sempre tiveram”, defendeu Xênia Melo. “A complexidade do mundo urbano nos afasta e a rede de apoio e as relações comunitárias mudaram, por isso a importância das doulas”.
Benefícios confirmados
Para a jornalista e doula Letícia Koehler a doulagem vem no sentido de combater a violência obstétrica e construir o parto humanizado. “A gente está trazendo para o parto, que é um momento muito sensível e delicado, uma presença de amor, cuidado e respeito. Não é apenas a parte técnica que precisa ser reconhecida. É um momento de elo e proteção”.
Desde 1996 a Organização Mundial de Saúde (OMS) alerta sobre os danos das intervenções obstétricas desnecessárias e sobre a necessidade do fim da violência no parto. Pesquisas recentes comprovam que o desempenho da doula ajuda na redução das cesáreas pela metade, além de diminuir em 60% os pedidos de anestesia. Também reduz em 20% a duração do trabalho de parto; em 40% o uso de oxitocina sintética (hormônio do amor), em 40% o uso de fórceps e ainda reduz a adoção de medicamentos para dor e anestesia localizada.
Há saldos positivos também através do reforço do vínculo com a mãe e o bebê, facilitando o aleitamento e reduzindo as taxas de abandono ou rejeição e depressão pós-parto.
Adriana Possan
Assessoria de Comunicação do Sinditest-PR