Amanhã, 20 de novembro, completa-se 50 anos do Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra. A data começou a ser celebrada nas escolas em 2003, por conta da lei que torna obrigatório o ensino de história e da cultura afro-brasileira, mas só foi oficializada para todo território nacional após a sanção da lei 12.519, pela presidenta Dilma Rousseff, em 2011. O dia é fruto das mobilizações do movimento negro e remete a data de falecimento de Zumbi dos Palmares, a maior liderança quilombola do Brasil.
A data tem por intuito resgatar as memórias de lideranças, trajetória e cultura afro-brasileira no país, e discutir sobre a desigualdade racial. No entanto, o racismo e os problemas enfrentados pelas pessoas negras acontecem todos os dias. Um dia apenas para se debruçar sobre estas questões é insatisfatório, a luta e a mudança é de todos e precisa acontecer diariamente, sobretudo diante de um governo racista e genocida.
O presidente Jair Bolsonaro possui um histórico de falas preconceituosas e criminosas e sua política de governo não poderia ser diferente. Desde 2019, ações de combate ao racismo e promoção de desigualdade racial estão sendo sucateadas. Em seu primeiro ano de governo, Bolsonaro cortou cerca de 70% dos investimentos nessa área, quando comparado com os valores do ano anterior, de acordo com os dados públicos do Ministério da Economia.
Membro do coletivo Travessia, Ivanilda Reis ressalta a necessidade de debater sobre os problemas enfrentados pela população preta em um país cunhado pelo racismo estrutural, cuja população predominante é preta.
“Todos os trabalhadores e trabalhadoras passam por um momento muito difícil de retirada de direitos. Mas isso se agrava quando nós estamos falando de trabalhadoras e trabalhadores negros. Então a fome, por exemplo, tem cor e classe social, ela é preta e favelada. A gente está agora na luta contra a reforma administrativa. O que que isso tem a ver com a questão racial? A gente constata que 67% do usuário do SUS são negros e negras. A educação pública, postos de saúde, serviços públicos são mais utilizados por negros e negros. Quando a gente tem uma reforma que visa acabar com o serviço público, estes serão os maiores atingidos”
Sobre o ato programado para o próximo sábado, dia 20, Ivanilda explica que a pauta #ForaBolsonaroRacista é resultado de uma política de manutenção e aumento da desigualdade.
“Nós estamos num governo de extrema direita, fascista em que a política adotada é de extermínio da população negra e favelada. E isso a gente pode ter a constatação na pandemia, por exemplo, a relutância que o governo teve para implementar o auxílio emergencial. O governo tem consciência de quem mais precisava do auxílio são os trabalhadores pobres e negros. Depois, toda dificuldade para ter acesso. Então isso não é à toa. Outra constatação, é essa manutenção que o governo defende da desigualdade em relação às universidades públicas. Nós sempre tivemos que lutar muito para manter a universidade pública, mas nunca os ataques foram tão fortes como estão sendo agora”.
Na próxima segunda-feira, dia 22, Ivanilda participa da live O racismo no Brasil em tempos de ataques, promovida pelo Sinditest-Pr em parceria com outros dois sindicatos. O encontro discute sobre a situação da população negra no governo Bolsonaro e contará também com a participação do diretor da Fasubra Toninho Alves. O evento será transmitido ao vivo, às 18h, no canal do Youtube do Sinditest-PR.
Para saber mais: a resistência quilombola no país
Apesar da diretriz curricular prever o ensino de história e cultura afro-brasileira, muitas vezes o que é ensinado nas escolas é um conteúdo raso. A luta e resistência negra são a base da história do Brasil, e precisamos resgatar os nomes das lideranças quilombolas, as mobilizações e as revoltas para fortalecer as referências negras que são parte da nossa trajetória.
Além de Zumbi dos Palmares, o nome mais conhecido da resistência quilombola no Brasil, há também outros que marcaram o país. Dentre eles Ganga Zumba, primeiro líder do quilombo de Palmares e antecessor do sobrinho Zumbi; Dandara, guerreira e estrategista; e Tereza de Benguela, guerreira combatente e líder do quilombo do Quariterê, a maior resistência do Mato Grosso. Vale relembrar também outros quilombos e mobilizações que tiveram um papel crucial na luta e resistência negra, como os quilombos Buraco de Tatu, um dos mais conhecidos na Bahia; Urubu, liderado por uma mulher, e a Revolta dos Malês, O maior levante de escravizados no país.