O Brasil anda conturbado. Não bastasse a publicação da lista do Lava Jato reafirmando o envolvimento dos partidos burgueses na corrupção, o pronunciamento da presidente Dilma Rousseff, no 8 de março, causou rebuliço geral.
A presidente teve coragem de pedir paciência ao povo brasileiro mesmo reafirmando o pacote de ajuste fiscal, as medidas provisórias que atacam duramente o seguro desemprego, o PIS, as pensões e outros direitos dos trabalhadores. Apesar desse duro ataque, durante o pronunciamento, panelas e buzinas ecoaram em bares e restaurantes de bairros de classe média e classe média alta, em cerca de doze estados. Não foram exatamente os trabalhadores que bateram panelas naquela noite. Mesmo assim, é importante levar em consideração que nas fábricas e outros locais de trabalho, muitos operários dizem ter simpatia pelas manifestações do dia 15 e pelo impeachment de Dilma, o que demonstra total insatisfação com a situação atual do país.
Nem a direita e nem o governismo são saídas para a crise
Para a CSP-Conlutas, esse sentimento é genuíno, mas a Central defende que os trabalhadores não participem das manifestações do dia 15. São orquestradas por setores de direita, como o PSDB e o DEM. Além disso, não há nessa política saída que beneficie a classe trabalhadora: sairia Dilma para entrar vice, Michel Temer, do PMDB, o pior que há na política brasileira, um partido envolvido até o pescoço com a corrupção e a defesa dos privilegiados deste país.
Se não é alternativa o que aponta a direita também não é alternativa o que vem apontando as direções governistas. Um tema debatido na reunião da Coordenação da Central é o papel que vem cumprindo as organizações governistas do movimento, entre elas, CUT, MST, UNE, CTB, a Consulta Popular, que estão organizando manifestações em defesa do governo no dia 13 de março, sob a desculpa que está sendo armado um “golpe” no país. Pretendem defender a reforma política e a Petrobras, e criticam as medidas econômicas do governo. “Por esse motivo não estaremos nos atos do dia 13. Não é possível defender o governo que patrocina alguns dos maiores ataques à nossa classe com a desculpa do “golpismo”!”, salientou o dirigente da Secretaria Executiva nacional da Central, Sebastião Pereira, o Cacau, resgatando a resolução da Coordenação Nacional da Central.
É preciso unificar as lutas e chamar a Greve Geral
Entendendo que nem o dia 13, governista, nem o dia 15, pelo impeachment, seriam alternativas, a Central aprovou convocar lutas e paralisações no dia 6 de março, proposta que foi acolhida por outras entidades. As ações ocorridas nessa data demonstram que há disposição de luta em defesa dos direitos ameaçados pelo ajuste fiscal de Dilma, dos governadores e prefeitos, e em defesa do emprego e dos direitos trabalhistas, bandeiras levantadas no 6 de março. Diversas categorias saíram à luta: setor público, operários e movimentos populares.
“Há uma indignação entre os trabalhadores, o povo mais pobre e os setores médios, que vem crescendo rapidamente. As medidas de ajuste fiscal e, sobretudo, os ataques ao seguro desemprego, PIS, pensões, combinado com o aumento da inflação e do custo de vida, o aumento generalizado dos preços dos alimentos e das tarifas, a falta de água e possibilidade de apagão, as demissões e notícias de corrupção, com a Operação Lava Jato, fazem crescer enormemente a indignação”, aponta a resolução da Coordenação Nacional.
Fortalecer a esquerda e preparar a Greve Geral
De acordo com Cacau, além da disposição dos trabalhadores ao atender o chamado à luta, o dia 6 demonstrou que existe espaço para a ampliação do campo de esquerda, independente dos governos, dos patrões e da oposição de direita. “Por isso, entendemos que este é um momento de avançar, precisamos ter ousadia e iniciativa política, para acumular forças e romper a falsa polarização que está colocada hoje na sociedade, entre aqueles que sustentam o governo Dilma e a oposição capitaneada por setores mais à direita; é hora de construir um verdadeiro plano de lutas rumo a uma greve geral no Brasil”, reforça o dirigente.
Por defender a unidade na luta como essencial neste momento, a CSP-Conlutas aprovou em sua Coordenação Nacional um chamado a essas organizações e às demais centrais sindicais, como a Força Sindical, para que rompam as negociações com o governo e unifiquem os esforços para realizar um dia de greve geral no país.
A “luta pela revogação das MPs 664 e 665, pelo arquivamento do PL 4330 das terceirizações, pelo fim das demissões e pela redução da jornada de trabalho sem redução de salários, em defesa da Petrobrás 100% Estatal e a exigência de punição, confisco dos bens e prisão de todos os corruptos e corruptores, desde o governo FHC, contra os cortes no orçamento das verbas destinadas às áreas sociais e pela suspensão do pagamento da dívida pública aos banqueiros”, são as bandeiras defendidas na resolução da Coordenação para orientar essa luta unificada.
Preparar a greve geral em cada um dos estados
No último dia 6, após as mobilizações que ocorreram pelo país e o ato no Rio de Janeiro, as entidades que compõem o Espaço de Unidade de Ação realizaram uma reunião que apontou algumas urgências. Entre elas, a necessidade de construir um novo dia de mobilização, com paralisações, a ser realizado de 7 a 9 de abril, coincidindo com as jornadas de mobilização dos servidores públicos federais.
“Para preparar essa luta é fundamental, mas ela só se dará se for organizada pela base das categorias dos trabalhadores; portanto devem ser realizadas urgentemente reuniões nos estados e nas entidades sindicais, estudantis e dos movimentos populares para debater a nova data de luta”, alerta Cacau.
Uma nova reunião do Espaço de Unidade de Ação será realizada em São Paulo no dia 20 de março, já com retorno dos estados.
O Espaço de Unidade de Ação decidiu-se, como parte dessa luta, participar do Dia Nacional em Defesa da Educação, em 26 de março, juntamente com as organizações estudantis, entre elas ANEL e Juntos, e os sindicatos de trabalhadores das universidades.
Fonte: CSP-Conlutas