Atual crise nas universidades pode ser maior do que as da Era FHC, diz coordenador da Fasubra

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Gibran Jordão: Agenda Brasil é o resultado do entrelaçamento das crises econômica e política no país.

O coordenador-geral da Fasubra, Gibran Jordão, disse na manhã de desta terça-feira, 25, em Curitiba, que as universidades públicas brasileiras estão vivendo uma das piores crises orçamentárias de sua história. “Talvez maior do que na época do Governo FHC”, completou. “Há universidades anunciando que podem fechar ar portas agora em setembro, se nada for feito.”

A fala aconteceu durante a assembleia de greve do Sinditest-PR, no RU Central. Gibran veio a Curitiba a convite do sindicato. A Fasubra é a federação que organiza nacionalmente os técnicos administrativos das universidades públicas federais.

Para Gibran, parte do atual cenário se deve à crise econômica mundial, que começou em 2008, nos Estados Unidos e na Europa. “A crise agora atravessou o Atlântico, se instalou na América Latina e atinge fortemente o Brasil. E aqui o governo aplica a mesma receita aplicada lá: retira direitos dos trabalhadores.”

A situação se agrava, segundo ele, porque no Brasil a crise econômica se entrelaça com uma crise política. “Diariamente, estamos vendo dirigentes históricos do Partido dos Trabalhadores envolvidos nas maiores denúncias de corrupção da história da República.”

O resultado disso seria a chamada Agenda Brasil, um conjunto de propostas do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMBD), encampadas pelo Governo Dilma Rousseff (PT), em troca de apoio no Congresso. O dirigente da Fasubra classifica a Agenda Brasil como um “retrocesso”. O documento prega, entre outras coisas, a cobrança de uma parcela dos atendimentos no SUS, o aumento da idade mínima para aposentadorias e a ampliação da terceirização.

(Confira no site do Senado Federal todos os intens da Agenda Brasil.)

A alternativa para barrar o retrocesso, na avaliação Gibran, é a construção de uma greve geral no país. “Se nós não construirmos esse caminho, o mais rápido possível, vamos sofrer derrotas históricas. Não é possível ter mais um milímetro de ilusão com o governo que está aí. Nem com a oposição direita.”

‘Bra’, de Bradesco
Bernardo Pilotto, técnico administrativo do Hospital de Clínicas e membro do comando local de greve, definiu a Agenda Brasil como a “Agenda ‘Bra’, de Bradesco”, numa referência às medidas que, de acordo com ele, pretendem aumentar ainda mais o lucro dos banqueiros e da elite do país, enquanto retiram direitos dos trabalhadores.

Seguindo esse raciocínio, os grandes latifundiários serão um dos principais beneficiados pela Agenda Brasil. “Mudando as regras, eles querem desmatar mais e avançar sobre as terras indígenas, consideradas improdutivas”, explicou Pilotto. “Dentro da lógica de produzir soja até esgotar a terra, são mesmo improdutivas. Mas a lógica não é essa. Ou vamos acabar também com todas as florestas, todas as matas? Elas também não produzem soja.”

Pilotto questionou a tese de que hoje no Brasil existem muitas terras indígenas. Os números apresentados por ele mostram que o total de reservas no país atualmente é de 13% do território. “Parece bastante, mas a maioria está localizada na região norte.” Nos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, de acordo com esses números, o percentual de terras reservado aos indígenas é de 0,43%, 0,37% e 0,22%, respectivamente.

SUS
Para a diretora do Sinditest-PR Natália Oshiro, a cobrança por atendimento é apenas um dos problemas que a Agenda Brasil traz aos usuários do SUS. Outro é a proibição das liminares que obrigam o Sistema a atender pacientes que necessitam de tratamentos experimentais, principalmente pacientes transplantados. Segundo Natália, isso custa anualmente ao Sistema R$ 2 bilhões. “Esse é justamente o valor do perdão que a Câmara concedeu para as dívidas dos planos de saúde no ano passado. Preferem tirar de quem vai morrer e dar para quem já tem muito.”

Natália também acusou o governo de subfinanciar intencionalmente o SUS. “Depois eles alegam que o problema não é de financiamento, é de gestão, e privatizam tudo.”

A união da elite com o PT
Márcio Palmares, da diretoria do Sinditest-PR, acredita que a ameaça do impeachment da presidente Dilma serve agora como desculpa para a implementação da Agenda Brasil. “A elite especulou tirar a Dilma. Qual foi a resposta? ‘Eu bato mais ainda, eu esmago mais ainda a classe trabalhadora.’ Esse é o significado da Agenda Brasil”, disse. “Nós estamos num período em que se não lutarmos de cabeça erguida, com dignidade, vamos perder tudo.”

Carla Cobalchini, também diretora do Sinditest-PR, foi na mesma linha. “Isso é transferência direta de recursos públicos para salvar e encher os bolsos da iniciativa privada. Em bom português, isso se chama ‘roubo’”, acusou. “A agenda Brasil celebra novamente a união entre o capital e o governo, celebra novamente a união entre os bandidos que estão no poder há décadas e o atual governo do Partido dos Trabalhadores.”

Abre as contas, reitor
Ao mesmo tempo da assembleia no RU, estudantes da UFPR organizaram um ato em frente à reitoria. Em greve, eles exigiram do reitor Zaki Akel a abertura das contas da universidade e a negociação da pauta local. Desde o início do ano, os estudantes têm aturado os cortes no auxílio estudantil e a falta de alimentos básicos no RU. Com a pressão das greves, diversas universidades federais abriram suas contas e mostraram que não terão como se manter já a partir de setembro se o governo não garantir mais repasses.

Com o protesto, o movimento arrancou uma reunião para amanhã, 26, às 17 horas.

Sandoval Matheus e Adriana Possan,
Assessoria de Comunicação do Sinditest-PR.

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