Um acidente com uma caldeira industrial de 500 litros provocou queimaduras de terceiro grau em um trabalhador da cozinha do Restaurante Universitário (RU) do câmpus Jardim Botânico da Universidade Federal do Paraná (UFPR), na segunda-feira, 26. Por volta das 9h30, o conteúdo da panela – que cozinhava 90 quilos de feijão – extravasou, ferindo quatro funcionários terceirizados, principalmente na região dos braços.
O ferido com mais gravidade permanece internado no Hospital Evangélico. Ele teve 9% do corpo queimado e terá de fazer enxertos. Após o acidente, os(as) funcionários(as) da cozinha, todos(as) terceirizados(as), paralisaram as atividades, pois se negaram a trabalhar sem condições de segurança. “Estamos trabalhando com uma bomba-relógio aqui dentro”, afirmaram. O RU do Botânico, que serve 1.700 refeições apenas no horário de almoço, diariamente, segue fechado.
Falta de manutenção
Segundo relatos dos(as) trabalhadores(as), alguns dos torniquetes que vedam a tampa da caldeira – são sete torniquetes, no total – apresentam problemas “há mais de ano”. São feitos “remendos” periódicos, mas o conserto efetivo das travas nunca foi realizado, conforme contam os(as) funcionários(as).
Na tarde de terça-feira, 27, outro acidente envolvendo uma panela industrial ocorreu no RU do Centro Politécnico, no Jardim das Américas. Felizmente, ninguém ficou ferido. Trabalhadores(as) denunciam a falta de manutenção preventiva e corretiva dos equipamentos, o que coloca suas vidas em risco.
“Não é feita manutenção, não tem verba para nada. Constantemente são pedidas revisões, que não são feitas porque não tem dinheiro. E há pressão para que os RUs continuem abrindo, mesmo sem ter condições para isso. O RU do Botânico está caindo de tantas rachaduras, eles só maquiaram, tamparam por cima”, contou um dos trabalhadores.
Não raro falta até mesmo verba para o pagamento de fornecedores, o que reflete na qualidade dos alimentos servidos para a comunidade universitária. “Já abrimos sem arroz para servir. Enquanto isso, a Reitoria divulga que, apesar da crise, está mantendo os RUs com o mesmo padrão de qualidade de sempre”, denunciou outro funcionário.
“Dizem que os RUs são a menina dos olhos da Universidade. Pois então é uma menina cega”, desabafou uma trabalhadora.
Terceirizados, os mais precarizados
Fora o risco de vida que correm ao trabalhar em ambientes sem condições de segurança, os(as) funcionários(as) terceirizados(as) dos RUs sofrem com a troca constante de empregador. “Estão sempre botando outra empresa no lugar, e cada empresa nova abaixa ainda mais o salário deles, que já é uma miséria, em torno de R$ 1 mil.” Além de tudo, a próxima empresa, que vai assumir a gestão dos(as) terceirizados(as) a partir de 1º de outubro, cortou o adicional de insalubridade dos(as) trabalhadores, mantendo o benefício somente para os(as) funcionários(as) do RU central.
“Nós nos solidarizamos muito com os terceirizados, eles ganham pouco e trabalham na pressão por conta de equipamentos estragados. Quando estão sem forno, eles correm para fazer tudo no fogão, acabam se queimando, escorregando. Tem equipamentos novos, modernos, que estão parados porque estragaram e não houve manutenção”, contou uma técnica-administrativa.
Todos(as) os(as) trabalhadores que falaram com o Sinditest pediram para não ser identificados(as), por medo de represálias. Segundo uma funcionária do RU do Botânico, não há previsão para reabertura.
Luisa Nucada,
Assessoria de Comunicação e Imprensa do Sinditest-PR.