+100 dias de greve: Sinditest-PR entrevista técnico Darci Gonçalves

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Na última semana as técnicas e técnicos administrativos em educação (TAEs) completaram 100 dias de muita luta e mobilização, por todo o país, em uma das maiores greves da categoria. Para celebrar este momento histórico, o Sinditest-PR conversou com o TAE Darci Gonçalves, montador soldador na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), para conhecer a trajetória de Darci e debater sobre a carreira das técnicas e técnicos na universidade. Confira a entrevista completa abaixo!

 

Sinditest-PR: Primeiramente, gostaria de saber sobre seu trabalho. Você pode nos contar um pouco sobre sua trajetória na UTFPR? Como foi o seu processo de ingresso e quais foram suas principais responsabilidades desde que você começou?

Ingressei no serviço público federal há 33 anos. Passei em primeiro lugar no concurso, que exigia apenas a 4ª série, mas eu já tinha completado o ensino fundamental. Minha função principal na instituição é na serralheria, como “serralheiro”, onde realizo manutenção predial. Ao longo do tempo, tive oportunidades para fazer um Curso Técnico em Fabricação Mecânica oferecido pela própria instituição, além de ingressar no curso de graduação Tecnólogo em Gestão Pública. Também tive a oportunidade de fazer uma pós-graduação em Inovação e Tecnologias na Educação.

Sinditest-PR:  Pode nos dar alguns exemplos de projetos ou iniciativas em que você esteve envolvido e que impactaram positivamente a universidade? Quais foram os maiores desafios que você enfrentou no seu trabalho até agora e quais realizações você mais se orgulha de ter conquistado na UTFPR?

Um dos projetos significativos foi a fabricação de plataformas para cadeirantes, solicitada após uma visita do MEC para inspecionar a acessibilidade na instituição e implantar novos cursos. Então, meu gerente me perguntou se eu poderia confeccionar plataformas e que seria um desafio. Eu aceitei a proposta. Desenvolvi inicialmente o EAE1 (Elevador para Alunos Especiais) que eleva o cadeirante em um percurso de até 60 cm. A plataforma seria para elevar os cadeirantes até o nível adequado para operar as máquinas como tornos e fresas, além de mesas no laboratório de química. Por ser uma plataforma móvel, também serviria de acesso para algum ambiente que tivesse degraus altos. Depois, fui desafiado a desenvolver o EAE2, que levasse em um percurso entre 2,5m a 3m de altura, e um terceiro para três percursos 9 m em Campo Mourão. Esses projetos foram essenciais para garantir a aprovação de cursos pela visita futura do MEC, onde os cursos foram aprovados com conceito A, e que elogiaram nossos gestores pela execução do projeto ter sido feita por um aluno da instituição e também como funcionário administrativo. O MEC me chamou para fazer uma parabenização no auditório da UTFPR, com mais de 750 pessoas, e fui chamado à frente para falar com os alunos que estavam ingressando sobre a importância de ser um aluno dentro da instituição e, no futuro, um empreendedor.

O maior orgulho que tive foi participar com este projeto em Brasília. Houve um prêmio, nós estávamos concorrendo e ficamos em segundo lugar. Como aluno, sinto muito orgulho de representar a instituição diante do MEC e mostrar que a UTFPR possui alunos bastante dedicados na área de mecânica. Fiquei especialmente contente porque um professor que me ajudou a inscrever o projeto, também servidor administrativo e professor fora da escola que, mais tarde, me pediu permissão para que seus alunos pudessem levar o projeto de novo ao MEC, representando escolas estaduais e municipais. Eles apresentaram o mesmo projeto e conquistaram o primeiro lugar. Esse é o orgulho: poder executar um projeto não apenas para nós mesmos, mas para a comunidade, especialmente na área de apoio a portadores de deficiência.

Além disso, desenvolvi as telas de proteção dentro da UTFPR, por controle remoto. Fui responsável não apenas pelas telas dos auditórios e salas de aula, mas também pela automatização das cortinas de palco e cenário. Também tive a oportunidade de atuar como instrutor, ministrando cursos de soldagem para nossos servidores, inclusive para a Prefeitura de Curitiba, juntamente com cursos de manutenção e prevenção.

Sinditest-PR:  Na sua opinião, qual é a importância dos Técnicos Administrativos em Educação para o funcionamento e a qualidade das universidades públicas? 

Contribuo com a instituição como servidor e aluno, estou em fim de carreira. No entanto, dou apoio dentro das minhas possibilidades a esta instituição e setor onde estou lotado, onde apoio professores e alunos. Gosto do que faço. Acredito que se houvesse um política de um novo desenho de gestão educacional, conscientização, confraternização entre docentes, administrativos e discentes, teríamos uma educação com menos evasão de alunos e com maior qualidade. A importância do técnico é enorme; somos nós que apoiamos e organizamos a instituição para que alunos e professores possam fazer seu trabalho sem preocupações. Os técnicos administrativos são essenciais e não há nem o que discutir.

Sinditest-PR:  O que você pode nos dizer sobre os motivos que levaram à greve dos TAEs? Quais são as principais reivindicações do movimento e como você enxerga o impacto desta greve na universidade e na educação pública em geral?

Estamos há praticamente mais de 10 anos sem progressão salarial. Estou em final de carreira, e o único meio de conseguirmos alguma melhoria é através da greve. Além disso, o ex-presidente aumentou nosso tempo de contribuição em 5 anos, mas esqueceu de ajustar nossa tabela salarial proporcionalmente, o que nos deixou totalmente desamparados. Além de sermos esquecidos, estamos defasados. Só queremos nossos direitos, que já estão garantidos na constituição, mas isso não está sendo feito. Esta não é uma opinião só minha, mas acredito que dos colegas servidores em geral.
As instituições e nós, servidores, merecemos mais respeito e condições de trabalho, pois nossas universidades estão sucateadas e merecemos os recursos para darmos mais qualidade a educação e adequação aos nossos alunos.

Confira também a retrospectiva dos 100 dias de greve!

 

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